O secretário de Agricultura de Pernambuco, Ranilson Ramos, diz que a debandada dos animais do semiárido é o pior que pode acontecer para a economia local. "Esse é o prejuízo maior, pois demora muito a reposição desses rebanhos". Na Bahia, que também registrou redução do rebanho por causa da seca, o diretor de Defesa Sanitária da Agência Estadual de Defesa Agropecuária, Rui Leal, concorda: "A reposição talvez não seja suficiente para evitar uma alta futura nos preços da arroba".
Com a terra seca e os animais indo embora, surge também o drama do desaparecimento das sementes nativas do sertão, que acabam sendo consumidas pelos sertanejos, sem outra opção de alimentação. Coordenador da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), Antônio Barbosa defende uma política mais consistente de distribuição de sementes, visando a sustentabilidade da agricultura do semiárido.
"O governo deveria garantir mais sementes e fornecer para o consumo humano, deixando as nativas armazenadas para o plantio quando a chuva voltar. Essas sementes são adaptadas para o clima da região, já têm o patrimônio genético e maior poder de germinação naquele ambiente seco. Mas o governo distribui as chamadas sementes híbridas, que não têm sustentabilidade naquele solo".
A estiagem também acertou em cheio as bacias leiteiras do Nordeste, que experimentam quedas vertiginosas na produção. Ainda não há dados oficiais consolidados sobre o prejuízo, mas já é possível ter uma ideia da proporção. Segundo João Carlos Alves, da Adagro, na segunda maior bacia leiteira de Pernambuco, no município de Bodocó, a venda diária de queijo despencou de 30 mil quilos por dia para cerca de 11 mil quilos. (MC)