Com o objetivo de aumentar a disponibilidade hídrica para produção de alimentos agroecológicos, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) irá implantar sistemas de reúso de água. A iniciativa está, pela primeira vez, atrelada ao Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) como parte do aditivo ao termo de cooperação firmado com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) no âmbito do Programa Cisternas.

Ao todo 45 famílias, que utilizam a cisterna-calçadão de 52 mil litros para irrigar plantações ou alimentar animais, serão contempladas com Sistemas de Reúso de Águas Cinzas (RAC) e Bacia de Evapotranspiração (BET). A primeira tecnologia permite filtrar os resíduos da água proveniente de ralos, pias, tanques e máquinas de lavar, enquanto a segunda é utilizada para o tratamento do esgoto. A chamada “terceira água”, resultante desses processos de purificação, pode ser utilizada nos afazeres domésticos e no cultivo de algumas plantas frutíferas.

Segundo o coordenador técnico de projetos do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) e membro do Grupo de Trabalho (GT) de Saneamento Rural da ASA, André Rocha essas tecnologias sociais de reúso de água podem ampliar em aproximadamente 70% a disponibilidade hídrica de uma família.

OFICINA

Os detalhes do novo projeto para o P1+2 foram apresentados, na segunda-feira (10), aos coordenadores do programa nas nove organizações sociais (ver lista abaixo) que vão executar a implantação das tecnologias RAC e BET nos territórios. Durante a oficina, realizada na sede da Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC) - personalidade jurídica da ASA -, no Recife, coordenadores e técnicos partilharam experiências e estabeleceram os primeiros acordos. O evento contou com a participação do coordenador-geral de Acesso à Água do MDS, Vitor Leal Santana.

De acordo com o coordenador do P1+2, Antônio Barbosa, embora o reúso de água seja uma novidade incorporada ao programa, a maioria das organizações envolvidas já tem experiência com a implantação dessas tecnologias. O desafio, segundo ele, é garantir uma uniformidade no processo metodológico que começa com a atuação da comissão municipal na identificação das famílias, passando pela capacitação técnica e política, realização de diagnósticos, visitas de intercâmbio e elaboração de projetos produtivos.

“Começamos a discutir esse projeto de reúso dentro do P1+2 para fazermos os ajustes necessários. Inclusive as famílias selecionadas poderão trazer suas inovações e não podemos estar fechados a essas contribuições. Caberá a todas as organizações estabelecer uma lógica de monitoramento comum para que essas informações possam ser analisadas por todos e ajudem a avançar nas nossas metas de ampliação do acesso à água no Semiárido”, afirmou Barbosa.

O projeto de reúso de água para famílias contempladas com o P1+2 é um dos frutos do trabalho da ASA realizado por meio do GT de Saneamento Rural. O grupo, ao longo de 2023 e 2024, realizou uma série de eventos para discutir o tema com agricultores, pesquisadores e integrantes do governo federal.

Esse longo processo de escuta e debate culminou com a elaboração do Programa de Saneamento Rural com Reúso de Água aprovado, em novembro do ano passado, pelos delegados e pelas delegadas do Encontro Nacional da ASA (EnconASA). O documento é um dos principais instrumentos para a implantação dos sistemas de reúso de águas cinzas e fecais capazes  de contribuir com a segurança hídrica, a preservação do meio ambiente e a promoção da saúde no Semiárido.

Organizações selecionadas para o projeto de reúso de água:

ESTADO

ORGANIZAÇÃO

Alagoas

Cactus

Bahia

Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa)

Ceará

Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador e à Trabalhadora

Minas Gerais

Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV)

Paraíba

Centro de Ação Cultural (Centrac)

Pernambuco

Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá

Piauí

Cáritas Piauí

Rio Grande do Norte

Centro Feminista 8 de Março (CF 8)

Sergipe

Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC)