A caatinga pode ser rica e autossustentável. A partir de novas práticas ambientais, a população se beneficia de um bioma cheio de vida e com alta capacidade produtiva
A notícia de que a caatinga seca e sem vida poderia ser transformada em uma área viva e produtiva surpreendeu a comunidade do Boqueirão, em Irauçuba. Muitos não acreditavam que a região poderia ganhar uma nova perspectiva a partir de soluções simples e práticas. Só que, para isso, o desmatamento, prática usada a muitos anos na região, deveria acabar. O agricultor e técnico de barragem Silvernando Soares Moreira, 32, foi um dos primeiros a apostar na iniciativa. "A natureza tem ensinado muito para a gente nesses últimos anos. É preciso respeitar o tempo certo de plantio sem queimar a terra", defende.
Ele lembra que no início, muitos agricultores questionavam a nova prática sem queimadas. "Eles chegavam revoltados perguntando como iam dar de comida à família se não queimassem mais a terra", comenta. A ideia é deixar a terra se reconstruir naturalmente, sem a interferência do homem. O adubo é encontrado à base de produtos naturais que encontra na palha e no esterco dos animais. Uma barragem subterrânea auxilia na captação de água. Com boa vontade e disposição para mudar, atualmente, cerca de 27 famílias pertencentes à comunidade são beneficiadas também com a plantação de novas árvores frutíferas, hortaliças e plantas medicinais. A caatinga ganhou mais vida. E uma mandala precisou ser construída para atender a criação de uma agrofloresta e da nova plantação, que não é mais só de milho e feijão. Agora, eles tem uma pequena horta para cuidar, com plantação de cebola, coentro, cheiro verde, pimentão, azeitona, eucalipto e aroeira. São mais de 800 espécies diferentes.
A mudança na produção da comunidade é acompanhada sob o olhar atento da nova geração. O estudante Paulo Soares, 9, ajuda o pai no reflorestamento e ainda discute na escola sobre essas novas estratégias de sustentabilidade na Caatinga. "Eu gosto de viver na Caatinga. Quando a gente cuida bem da natureza, ela retribui para a gente", acredita o garoto.
Em outra comunidade, próximo ao distrito de Missi, outros agricultores são beneficiados com a construção de cisternas calçadão. Uma quadra montada próxima a uma cisterna capta e armazena a água das chuvas para serem usadas durante o plantio de novas mudas. O reservatório capta até 52 mil litros e é um importante passo para a sustentabilidade da comunidade. Ao todo, são seis cisternas calçadão na região. O agricultor Antônio Braga, 39, será um dos futuros beneficiados. A cisterna calçadão foi concluída no fim do ano passado e por falta de chuva ainda não pode ser testada. "Estamos confiantes que vai dar tudo certo", diz. Essa novo tipo de cisterna vem acompanhado com a distribuição de novas mudas de plantas, que são replantadas no entorno das cisternas, promovendo o reflorestamento de espécies nativas.
Em Crateús, outras atividades também estão trazendo novas perspectivas para a sobrevivência na Caatinga. Segundo o secretário-executivo da Associa&cced