Assim como Petrônio Fernandes de Oliveira e Inácio Tota Marinho, muitos brasileiros saíram da zona rural para os centros urbanos em busca de oportunidades. Com os agricultores apresentados no Globo Ecologia sobre Juazeirinho, programa da série “O Bem Comum”, isso aconteceu na década de 80, quando o município da Paraíba estava em crise devido à falta de água. Mas esse fenômeno, que ganhou o nome de êxodo rural por representantes das ciências políticas e sociais, teve início na Idade Média. No Brasil, foi no século XVIII o primeiro grande movimento de migração de pessoas, só que de uma área rural para outra. O primeiro inchaço nas cidades ocorreu no século passado, durante o mandato do presidente Getúlio Vargas, quando o Brasil começou a se industrializar.

“Já na Idade Média, quando cidades começaram a se desenvolver, as pessoas passaram a ver empregabilidade fora da zona rural. No Brasil, as migrações ocorreram nas trocas do que chamamos de ciclos. O primeiro grande ciclo foi o da cana-de-açúcar, a partir do ano de 1532. Muita gente foi para o Nordeste para trabalhar nos canaviais. Mais ou menos em 1750, as mudas de café chegam ao Brasil, mostrando-se mais rentáveis. E lá se foi parte dos agricultores para o Sul e o Sudeste. Isso muda quando houve a quebra da bolsa de valores de Nova York e o Brasil começou a se industrializar, na década de 30, época de Getúlio, e a intensificar esse processo durante o governo do presidente Jucelino Kubichek“, explica Guilherme Carvalhido, professor na área de Ciências Sociais da Universidade Veiga de Almeida (UVA).

A definição de êxodo rural é simples: “migração de pessoas da zona rural para um centro urbano”. Mas os motivos que levam essa gente a mudar toda a sua vida e apostar em um risco é complexo. O fenômeno ocorre basicamente por três motivos: ausência de infraestrutura no local onde o cidadão habita; características naturais, como o clima ou os desastres incontornáveis; e questões políticas. Os governos sempre incentivaram a vinda da população para as cidades quando, após o fim de um ciclo, a região de plantio sofria um empobrecimento. Em vez de investir na área, políticos achavam mais confortável “vender” uma ideia que mais parecia um sonho.

“Teve a migração por exemplo na época construção de Brasília. Muita gente saiu do Norte e do Nordeste fazendo êxodo rural em direção ao Planalto Central. Havia um planejamento para uma capital rica e bem organizada. Brasília foi construída e hoje é a cidade mais rica do Brasil em renda per capta. Só que as pessoas que foram trabalhar lá não tiveram a mesma oportunidade de trabalho, porque não tinham formação, e fizeram a favelização nas cidades satélites. Também durante o regime de governo militar, nos anos 60, houve o incentivo porque os interiores estavam muito pobres e não havia políticas rurais”, conta Guilherme.

O resultado disso pode ser visto a olho nu nas favelas, nos engarrafamentos e na movimentação de gente por todos os cantos de centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza. Com as pessoas chegando nas cidades despreparadas e desqualificadas, afinal sua realidade era a vida na cultura agrícola, o destino delas estava nos subempregos. Favelização, prostituição, violência, tudo passa a fazer parte da rotina das cidades. A Rocinha foi um dos primeiros receptáculos de nordestinos e nortistas no Rio de Janeiro.

“Em termos geográficos e populacionais, os índices são desproporcionais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1960, 60% da população morava no campo. Hoje, quase 90% está nas cidades. São Paulo tem 40 milhões de pessoas e o Rio 15 milhões, enquanto várias cidades do interior ficaram vazias. O pior é que muitas dessas pessoas vivem em condições degradantes. Recife é hoje uma das capitais mais violentas do Brasil”, diz o cientista social.

A boa notícia é que há possibilidade dessa realidade mudar. Com a mecanização dos campos e a transferência de indústrias para zonas rurais, além da criação de políticas rurais, mais intensificada no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o êxodo rural pode chegar ao fim. E, quem sabe, até mesmo ocorrer um êxodo urbano.

“O Brasil nunca teve um interior rico. Na época do governo Sarney, na verdade com o fim do governo militar, começou a haver uma tentativa de política rural. Foram criadas faculdades para a capacitação de profissionais específicos para isso, a especialização chegou ao setor. O presidente Fernando Henrique Cardoso também pensou nisso. E Lula trouxe de volta a valorização das terras, com o Movimento Sem Terra, a criação de organizações não-governamentais, a sindicalização dos trabalhadores e o aumento das universidades locais. Fiquei impressionado quando estive em Goiás. É um novo Brasil, com a cidade absolutamente desenvolvida. Segundo o IBGE, o prazo para o fim do êxodo é entre 2015 e 2020.

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O bem comum: Juazeirinho (PB)

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