Mardônio
- Esse encontro trouxe para o Semiárido a discussão principalmente dos transgênicos, que hoje ameaça muito a agricultura familiar. Por outro lado, ele trouxe a perspectiva da ASA discutir enquanto rede a questão das sementes crioulas, e não apenas regionalmente. Além disso, cada estado pode assumir seus compromissos, fazendo com que o encontro não fique só no debate.A participação dos agricultores também foi muito importante, por terem colocado sua posição em relação aos transgênicos e também por terem expressado a diversidade das suas experiências. Foi uma riqueza muito grande!
A questão das políticas públicas também foi um destaque. Ficou bem expressiva a importância das sementes crioulas e das pesquisas com esse tipo de semente, para que se mostre a viabilidade e a qualidade delas. A experiência vivenciada na Paraíba, por exemplo, é algo que deve ser expandido para outros estados. Aqui em Alagoas nos reunimos já como reflexo do encontro, para rediscutir o programa estadual, ver como podemos trabalhar com bancos de sementes e agua para produção, numa dinâmica casada. Em nível de Semiárido isso também repercute, pois a Paraíba já quer também fazer uma discussão localmente para ver como ampliar e rediscutir a lei deles (lei de sementes estadual) que já existia. Eu acho que o encontro pautou o tema e sai com o compromisso, com um sentimento de que cada estado assuma uma bandeira, assuma uma tarefa para que tenhamos um Semiárido livre de transgênicos.
Asacom - Na prática, que avanços podem ser apontados a partir desse debate?Mardônio
- A ASA tem um caminho aberto com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) a partir do Programa Uma Terra e Duas Águas. Estamos fechando um plano de trabalho onde teremos consolidadas casas e bancos de sementes, viveiros de mudas, como reflexo também da visibilidade que o encontro trouxe para questão. Por outro lado, temos o debate com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), com a própria Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para que trabalhemos a questão da semente para aqueles agricultores e agricultoras que estão em situação de extrema pobreza, pensando que essas sementes para produzir alimentos, sejam produzidas pela agricultura familiar. A Conab se coloca disposta e aberta para isso. Coloca-se inclusive na condição de financiadora no que diz respeito à compra das sementes crioulas, de forma que possam comprar dos bancos de sementes e doar para aquelas comunidades que ainda não têm essa dinâmica, na perspectiva de ampliação dos bancos de sementes.Asacom - Qual a importância de estabelecer parcerias com outras redes, movimentos e organizações acerca do tema ‘sementes’?Mardônio
- É extremamente estratégica essa relação de ampliar as parcerias. A ASA por si só já é uma grande rede, mas existem outras redes, para além da limitação do Semiárido, que também vêm discutindo essa temática. A gente acaba conhecendo experiências próprias de outras regiões, a exemplo do Paraná, que sofreu com a enxurrada de sementes transgênicas ameaçando o plantio das sementes crioulas nesses locais. A relação da ASA com a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e com a Terra de Direitos e uma série de outras organizações locais, comunitárias, e até de outros países, representa uma grande rede, que se articula para um objetivo comum, como o desenvolvimento dos pequenos agricultores.Fonte: ASA