Numa noite de poesia na Jornada Literária Portal do Sertão, na sexta-feira 19 de outubro, em Arcoverde, um velho tema foi o mote dos versos rimados dos cordelistas presentes e também era tema de conversa de mesa de bar: a seca que impiedosa castiga não somente aquela região do Sertão do Moxotó, mas todo o Nordeste, como há muito não se via.

O tema da estiagem rimava com a saraivada de críticas ao governo por não cumprir o cronograma das obras – cada vez mais caras – de transposição do Rio São Francisco, dos canais e das adutoras que poderiam já estar mitigando o sofrimento da população. Obras que deveriam ser retomadas com a máxima urgência. Fenômeno secular, natural e previsível, em Pernambuco a seca levou 115 dos 184 municípios à declaração de situação de emergência – são 56 no Agreste e 59 no Sertão.

Quem parte do Recife para o interior vê, ao longo da mal conservada BR-232, a vegetação castigada pela falta de chuvas e o gado já magro, quase pele e osso, rareando, pastando mais terra, seixo e vento do que o mato seco, à medida que a capital pernambucana vai ficando distante. Onde havia rio, riacho e ribeirão há somente o leito seco, marrom e pedregoso. Verde aqui e ali só o de uma vegetação catingueira, de cactos e de palma. Do que foi plantado pouco vingou para ir à panela ou ser vendido nas feiras, deixando os agricultores vivendo no flagelo e endividados.

Açudes, muitos deles construídos não há muito tempo, estão exauridos, não há sequer água barrenta nos barreiros. Para onde a vista não alcança, o drama é maior. Cisternas não suprem o abastecimento e o povo sofrido depende cada vez mais dos carros-pipa.

A presidente Dilma Rousseff destinou R$ 2,7 bilhões da União para ações emergenciais. Esta verba não pode ficar presa na burocracia da máquina pública. A população flagelada clama por auxílio, embora seja necessário rigor na fiscalização para evitar desvios, que o dinheiro se evapore como a água do Sertão.

O governo estadual perfurou 400 poços e construiu 21 mil cisternas de água para o consumo humano e 15,5 mil à produção da agricultura familiar. Eduardo Campos esteve em Salgueiro para entregar os cartões do programa Chapéu de Palha Estiagem, que vai beneficiar 182 mil trabalhadores com um auxílio de R$ 280, divididos em quatro parcelas. Tal benefício complementa o Bolsa Família, o Bolsa Estiagem e o Garantia Safra, do governo federal. Não é o suficiente.

O governador tem em mãos a Carta do Araripe, elaborada pela Articulação do Semi-Árido (ASA), rede formada por organizações não governamentais, sindicatos, associação de pequenos produtores e de mulheres. Entregue em Salgueiro, o documento reivindica seguro agrícola adaptado à realidade local para sanar prejuízos com a produção, investimentos em fontes alternativas de energia (como a solar), além da construção de mais cisternas de concreto. E sobretudo cobra uma política duradoura e a construção de bases sustentáveis para a convivência com o Semiárido nordestino. Não se pode mais adiar a decisão política e se apegar apenas a soluções paliativas.