Agroecologia
06.06.2016 SE
“Ser agricultor experimentador é observar a natureza”, diz agricultor que participa de Encontro Nacional em Aracaju (SE)

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Por Gleiceani Nogueira - ASACom

As agricultoras Maria e Margarida, do Piauí, desejam conhecer mais sobre as sementes crioulas
 

Dona Maria Francisca, do município de Picos, no Piauí, desembarcou em Sergipe ansiosa para trocar conhecimentos e aprender como os agricultores/as de outros estados do Semiárido como eles trabalham com as sementes crioulas.

Ela trouxe da sua região variedades de feijão, milho e melancia. Dona Maria estava na companhia de outra agricultora do Piauí, a Margarida, do assentamento Arizona 1, município de Lagoa do Sítio. Elas são agricultoras experimentadoras que estão participando de um encontro nacional que reúne agricultores/as de todos os estados do Semiárido para trocar experiências de convivência com o Semiárido.

O interesse pelas sementes crioulas também motivou Seu Arnaldo, da comunidade Riacho Fundo, do município de Carnaíba, em Pernambuco, a participar do Encontro. A sua comunidade conquistou recentemente um dos 640 bancos de sementes do Programa Sementes do Semiárido da ASA. A expectativa do agricultor é aprender mais sobre a gestão dos bancos.

“As sementes são o maior patrimônio em defesa da soberania alimentar”, diz convicto Seu José Ferreira, da comunidade Vale do São Francisco, em Pedro II, no Piauí. No saquinho que carrega junto com outros pertences pessoais é possível encontrar uma variedade de oito tipos de feijão, dois de milho e sementes de melancia. Seu José tem plena confiança nas sementes que guarda e que são livres de veneno e adubos químicos. “As sementes híbridas e transgênicas prejudicam a saúde”, ressalta. Para ele, ser um agricultor experimentador é observar a natureza e aprender com ela o comportamento das plantas e dos animais. “A natureza é perfeita. Ela é lenta e precisa de muita atenção. A fauna está sendo extinta porque não querem respeitar a natureza”.

O tema das sementes vai perpassar vários momentos da programação. Mas o momento mais esperado será a Feira de Troca de Sementes, que ocorrerá na quarta-feira (8). Nesse mesmo dia, está previsto o lançamento da cartilha “Um lugar de vida para as sementes do Semiárido”, que conta a história de uma comunidade rural fictícia chamada Berro d’Água, que decidiu ter um banco de sementes e se organiza para isso.

Abertura - A diversidade cultural marcou a apresentação das delegações. A Bahia trouxe a chula cantada pelos agricultores Verenilton e Jeovaldo, do Morro do Chapéu, no território de Irecê. Em Alagoas, a toada dos índios se fez presente. Já o Piauí cantou uma paródia da música de Zé Vicente sobre as sementes. O Ceará foi destaque pelas cores, símbolos e bandeiras de luta usadas na apresentação. A conjuntura política também foi lembrada nas apresentações de vários estados. Aos gritos de “Fora Temer”, os participantes e as participantes demostraram que não reconhecem o governo golpista do presidente interino.

O agricultor Belarmino, do estado anfitrião, destacou que o momento é de fortalecer a construção de um Semiárido resiliente para garantir que os direitos conquistados pelos povos da região não sejam retirados. Ele e dona Netinha deram as boas-vindas aos participantes. Na fala de dona Netinha, ela lembrou o papel da mulher, que hoje ocupa e participa de espaços políticos, e também da importância de cada um e cada uma multiplicar o que aprendeu no Encontro. “O que eu aprendi aqui não pode ficar só pra mim”, reforça.

O IV Encontro segue até a próxima quarta-feira (8), no clube Banese, em Aracaju. Amanhã (7) serão realizadas visitas a 24 experiências no Semiárido sergipano em diversas áreas como estoque de água, sementes, quintais produtivos, criação animal, juventude, acessos a mercados e auto-organização das mulheres.