Por Kleber Nunes - ASACom
Universalizar o acesso à água potável para consumo humano, ampliar o número de famílias com água para produção e promover a “água do cuidado” no Semiárido brasileiro. Os desafios postos para a região, 20 anos depois do Programa Cisternas, foram debatidos nesta quarta (13) durante a 6ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (6ª CNSAN), em Brasília (DF).
De acordo com Naidison Baptista, membro da coordenação da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), a “revolução” que levou 1,2 milhão de cisternas para o Nordeste e Minas Gerais precisa ser retomada observando as novas realidades. Ele lembrou que os reservatórios são apenas um elemento da convivência com o Semiárido e, por isso, é necessário fortalecer as ações conectando a segurança e soberania alimentar com a segurança hídrica.
“Temos um déficit de acesso à primeira água entre 400 e 550 mil famílias que precisamos zerar ainda neste mandato do governo Lula. Ao mesmo tempo, construir mais cisternas de produção oferecendo fomento e assistência técnica. Além disso, temos que estudar como vamos garantir o que as mulheres estão chamando de ‘água de cuidado’, que é aquela utilizada no dia-a-dia doméstico. Isso é olhar para o Semiárido que está maior e mais povoado”, disse.
Após quatro anos de aniquilação das políticas públicas, Naidison destacou que é importante a participação de todas nas instâncias de decisão política em todos os níveis, em especial nos municípios. “Vamos ocupar os conselhos pois é lá que construímos as políticas. Ao mesmo tempo, temos que fortalecer as nossas organizações atuando em rede”, afirmou.
As provocações levantadas por Naidison aconteceram durante o painel “Acesso à água e segurança alimentar: aprendizados, desafios e perspectivas do Programa Cisternas após 20 anos de implementação”. A atividade autogestionada integra a programação da 6ª CNSAN e tem o objetivo de ampliar o debate sobre a segurança e a soberania alimentar.
No mesmo espaço, Mauro Del Grossi, professor da Universidade de Brasília (UnB) e integrante da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) apresentou os primeiros dados de segurança hídrica no Brasil. As informações fazem parte de uma pesquisa que teve início este ano e será realizada até 2026.
Segundo o levantamento, 23 milhões de brasileiros e brasileiras têm dificuldade de acesso à água. Nesse universo de pessoas com insegurança hídrica, quatro em cada dez estão passando fome.
“A pesquisa revela que nas áreas rurais 40% dos moradores não têm água para criação de animais, e 44% não têm água para produzir alimentos. A constatação que a gente consegue aferir e confirma a fala de Naidison é que onde falta água, tem fome”, explicou o pesquisador.
A Rede Penssan e a ASA estão dialogando para aperfeiçoar a pesquisa e fazer chegar a todo Semiárido. Segundo Naidison, que é membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), a entidade também está empenhada em contribuir com o mapeamento e, consequentemente, com a erradicação da insegurança hídrica aliada ao direito a comer.
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