Cisternas
15.02.2021 PI
No Semiárido do Piauí, 60 cisternas de primeira água serão construídas em comunidades quilombolas
Construção das tecnologias será viabilizada com recursos de um termo de colaboração firmado em 2017 entre ASA e Governo Federal

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Por Érica Daiane Costa | ASACom

Comunidade quilombola participa de GRH I Fotos: Quilombo Mimbó

A Obra Kolping, entidade do Piauí que integra a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), começa nos próximos dias a construção de cisternas em duas comunidades quilombolas do Semiárido piauiense. O Quilombo Mimbó, a 17 km da sede do município de Amarante, e a comunidade Troncos, que fica a 8 km da sede de Paquetá, serão contempladas com a construção de 60 cisternas de 16 mil litros.

A ação é resultado do Termo de Colaboração 047/2017, firmado entre a ASA, por meio da Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC), e o Ministério da Cidadania e sua execução representa um desafio para a organização, conforme informou Raimundo João da Silva, coordenador da Obra Kolping. João explica que, devido a alta inflação, o orçamento que tinha previsto hoje não cobre o custo do projeto e o governo não fez nenhuma atualização, mas a entidade irá arcar com o aporte financeiro que falta para garantir a conclusão.

O esforço por parte da instituição deve-se a realidade das comunidades contempladas, as quais não contam com nenhum reservatório para água potável. Foi a partir do Projeto Cisternas nas Escolas, executado em 2020, que se percebeu o quanto as famílias precisavam das cisternas domésticas, conta Raimundo.

A professora Marta Regina Paixão de Araújo, do Quilombo Mimbó, fala com entusiasmo do projeto, que mesmo não beneficiando as 173 famílias da comunidade já irá ajudar muito. Em Mimbó serão construídos 52 reservatórios do total das 60 e a professora adianta que, por serem casas bem próximas, a vizinhança vai se ajudar, partilhando a água armazenada.

Atualmente a comunidade recorre a dois poços tubulares para ter água de beber e para usos domésticos, quando estes secam a opção é o Riacho Mimbó, mas que fica distante das casas. A realidade da comunidade de Troncos não é diferente, apesar de está localizada bem mais próximo da cidade.

No Semiárido do Piauí já foram construídas quase 68 mil cisternas para garantir acesso a primeira água, que é a água para consumo humano (beber e cozinhar prioritariamente). Com os cortes de orçamento que vem ocorrendo, o número de construções decaiu a cada ano, contabilizando 94% de queda nos últimos seis anos em toda região semiárida do Brasil. No estado do Piauí ainda há uma demanda de 47,17% para que as cisternas de primeira água sejam universalizadas.


Mobilização Social

Diferentemente de alguns órgãos governamentais, os programas da ASA trabalham a construção de cisternas e outras tecnologias de forma pedagógica. Nesse sentido, as famílias beneficiadas em Mimbó e Troncos passaram por formações, a exemplo dos cursos de GRH (Gerenciamento de Recursos Hídricos), que além de fortalecer a troca de conhecimento entre equipe técnica e comunidade, estimulam as famílias e se engajarem em todas as etapas do projeto e assumirem a contrapartida, a exemplo da escavação.

Para Marta, este projeto trouxe ainda algo muito valioso e que ela estava sentindo falta na comunidade: a mobilização. Ela relata que as famílias se referem às cisternas como “bençãos” e estão envolvidas em todo processo e afirma: “Estamos correndo atrás pra que outras famílias sejam beneficiadas”.


Pandemia

Os impactos da Pandemia da Covid-19 são perceptíveis nas cidades e no campo, acentuando diversos problemas sociais gerados pela negação de direitos básicos, como acesso à água e condições básicas de higiene.

Paralelo à construção das tecnologias de captação e armazenamento de água da chuva está sendo executado um projeto que visa a distribuição de máscaras para a população. Trata-se de uma parceria da Obra Kolping com o Governo do Estado do Piauí e Banco Mundial. O agricultor Edimilson Barbosa, do Quilombo Mimbó, afirma que esta iniciativa também é muito importante, uma vez que no cenário atual da pandemia todos e todas devem sair de casa protegidos/as.