20 de Novembro
20.11.2020
UM ANO DE CONSCIÊNCIAS E LUTAS

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20 de Novembro: Consciência Negra

2020 nos mostrou mais do que uma pandemia - ele escancarou problemas profundos da nossa sociedade. A pandemia chegou com mais força para quem é mais pobre; para quem precisa pegar transporte público de baixa qualidade, lotado e em longas viagens para continuar trabalhando; para quem não tem condição de contratar serviço particular de saúde por receber pagamentos mais baixos por seu trabalho; e pra quem ficou sem trabalho e renda (e com isso, muitas vezes, sem acesso à água e moradia). Esse perfil tem cor no Brasil. A maioria dos mais pobres é negra. O resultado? Em Pernambuco, por exemplo, 74,9% dos casos confirmados e 72,7% dos óbitos são de pessoas negras (SES-PE). Não tem fator genético - é social mesmo.

2020 nos mostrou mais do que a intolerância - nos lembrou dramaticamente das violências brutais contra os negros. Nos EUA, George Floyd foi assassinado por um policial branco, sufocado até a morte. Milhões de pessoas saíram às ruas, não só na América do Norte, mas no mundo todo, gritando #VidasNegrasImportam. Ontem, a segurança particular contratada pela rede Carrefour no Brasil assassinou outro homem negro na porta do supermercado.

2020 nos mostrou com total evidência que o racismo está em toda parte - e continua sendo, no geral, a relação existente entre as famílias brasileiras e suas empregadas domésticas (uma lembrança da Casa Grande e da Senzala). O menino Miguel estava no trabalho com a mãe, empregada doméstica negra de uma família branca ligada ao poder político e abastada, quando morreu por negligência da patroa. No nosso país, onde esses empregos são ocupados em sua maioria por mulheres negras, seria muito difícil que uma notícia como essa evidenciasse outras relações de cor para casos como o de Miguel e a família Corte Real.

2020 também trouxe algumas situações que nos indicam avanços. Pela primeira vez, em eleições brasileiras, a disputa pelos mandatos de vereador e vereadora esteve mais com pessoas negras (52%) do que com pessoas brancas (48%). Para a Câmara do Recife, por exemplo, quem obteve a maior quantidade individual de votos foi uma mulher negra. E mesmo que as candidaturas negras não tenham se tornado uma maioria de eleitos negros (somente 44,7% de quem assumirá mandatos é negro/a), esse volume cresceu em relação às eleições municipais anteriores. Já nos EUA, pela primeira vez, uma mulher negra (e de ascendências indiana e jamaicana) será vice-presidenta do país.

É fundamental ampliar e visibilizar a representatividade negra! Não só na ocupação de espaços de decisão estatal, mas em toda parte: na cultura, na estética, nos discursos, na linguagem. Será possível que alguém ainda use a palavra "denegrir"? Precisamos ser antirracistas e essa luta é urgente. E isso não tem a ver somente com as pessoas negras fortalecendo suas consciências e lutando todos os dias. Precisa ser um movimento de toda a sociedade - e todas as sociedades onde o povo negro continua sendo explorado, de forma velada ou não.

#ConsciênciaNegra #20deNovembro #ZumbiDosPalmares #LutaAntirracista #VidasNegrasImportam