Lançamento
14.11.2019 PB
Na Paraíba, Projeto Agrobiodiversidade do Semiárido reforça as estratégias dos guardiões e guardiãs de sementes da Paixão

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Por Áurea Olímpia - Núcleo de Comunicação da ASPTA e GT de Comunicação ASA PB

Guardiões e guardiãs das sementes da Paixão no dia de lançamento do Agrobiodiversidade do Semiárido | Foto: Áurea Olímpia

Entre notícias de mais agrotóxicos liberados para uso no Brasil, eis uma boa nova. Foi lançado ontem, na Paraíba, no território da Borborema, um projeto que vem reforçar mais ainda a capacidade e coragem dos guardiões e guardiãs de sementes crioulas. Trata-se do Projeto Agrobiodiversidade do Semiárido, que realizará ações em cinco estados da região. Na Paraíba, o projeto vai atuar em 13 municípios.

A iniciativa é fruto da parceria entre a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e conta com o apoio da Fundação Eliseu Alves e do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na terça passada (12), o evento que marcou o início das ações do projeto teve a presença de 50 guardiões e guardiãs de sementes, assessores técnicos e representantes da Rede de Sementes da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba). O momento aconteceu no Banco de Sementes Comunitário do Sítio Campos, em Montadas, no Agreste da Paraíba.

Os agricultores e agricultoras presentes fazem parte de articulações territoriais de sindicatos, organizações comunitárias e organizações não-governamentais que promovem o fortalecimento da agricultura camponesa: o Fórum de Lideranças do Agreste (Folia) e o Polo da Borborema, que é uma rede de 13 sindicatos de trabalhadores rurais, parceiros da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. Na Paraíba, o Projeto Agrobiodiversidade do Semiárido é executado pela AS-PTA.

“Este projeto vai na contra corrente de um modelo capitalista de desenvolvimento que vê as sementes como mercadoria, o modelo que distribui poucas variedades de sementes em grandes volumes e, geralmente, produzidas em outros sistemas de produção, que não representam a realidade da agricultura familiar de base agroecológica e não considera a realidade e o trabalho de conservação e melhoramento das sementes da Paixão realizado pelas famílias agricultoras”, pontuou Emanoel Dias, assessor técnico do Núcleo de Sementes da AS-PTA.

“Os projetos que vem têm que ser uma injeção de ânimo para aquilo que já existe na comunidade”, seu Joaquim Santana, um dos guardiões presentes | Foto: Áurea Olímpia

O Agrobiodiversidade do Semiárido se soma às estratégias que já acontecem nos territórios para fortalecer e valorizar a agrobiodiversidade dos biomas Caatinga e Cerrado a partir de ações coordenadas com redes locais. “É muito importante a comunidade não ficar submissa às coisas que venham de fora. Os projetos que vem têm que ser uma injeção de ânimo para aquilo que já existe na comunidade”, comentou seu Joaquim Santana, um dos guardiões presentes que veio do Sítio Campos, Montadas.

A região onde o projeto vai ser implementado é recheada de iniciativas que se reforçam com relação às sementes crioulas. Só para citar dois exemplos, em Lagoa Seca, um dos municípios beneficiados com a ação, há o Banco Mãe de Sementes, que alimenta os bancos comunitários de sementes de toda o território da Borborema, que são cerca de 60 unidades. E, em Lagoa Seca, também há a Unidade Regional de Beneficiamento do Milho Livre de Transgênico, que funcionará no Banco Mãe. A unidade está produzindo derivados do milho livres de transgênicos, como fubá, xerém, mungunzá e, em breve, flocão.

As frentes de ação estão voltadas para a capacitação dos guardiões e guardiãs, estruturação de sistemas de produção e beneficiamento de sementes, implantação de campos de multiplicação de sementes crioulas e fortalecimento de redes e canais de comercialização.

Durante o evento, foram apresentadas duas experiências de gestão de Bancos de Sementes Comunitários, o da Comunidade Canoa de Dentro, em Pedra Lavrada, e do Sítio Furnas, em Montadas. A partir das experiências apresentadas, foram debatidos os desafios para ampliar a conservação do material genético que alimenta quem vive na região.

Um dos desafios é a sensibilização dos agricultores sobre os riscos da contaminação do seu material pelas sementes transgênicas de milho. “Mesmo com as dificuldades, precisamos fazer a nossa parte para garantir a nossa semente limpa, porque sabemos que a semente transgênica, não adaptada, ela dá um ano ou dois, depois vai acabando, e, com a contaminação, vai acabar as nossas também. Precisamos continuar nosso trabalho de convencimento”, disse Rosemary Alves, da comunidade Canoa de Dentro, em Pedra Lavrada.

“Nossa intenção é que as sementes guardadas nos bancos não sirvam só para os sócios, mas para toda a comunidade, justamente para evitar que venham as sementes de fora que possam contaminar as nossas”, frisou Antônio Fernandes, do município de Aroeiras, território do Folia.
No final do encontro, os guardiões e guardiãs levantaram estratégias para enfrentar o avanço dos transgênicos, entre elas a necessidade de ampliar a atuação da campanha “Não Planto Transgênicos para Não Apagar a Minha História”, desenvolvida pelo Polo e pela AS-PTA e que se espalhou por todo a Paraíba através do trabalho da Rede de Sementes da ASA.