20 Anos da ASA
07.11.2019
ASA celebra 20 anos no XI Congresso Brasileiro de Agroecologia

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Por Rosa Sampaio - Asacom

Foto: Fernanda Cruz/Arquivo Asacom
Amor e confiança para tecer uma Agroecologia insurgente é o lema celebrado no XI CBA - Congresso Brasileiro de Agroecologia, que acontece desde segunda - feira, dia 4, e foi até hoje, 7, na Universidade Federal de Sergipe, em Aracaju. Encontro que marcou a presença de mais de três mil camponesas e camponeses, agricultores e agricultoras, indígenas, quilombolas e a diversidade de povos e comunidades tradicionais brasileiras, em torno da agroecologia.
 
E hoje na Plenária das Agricultoras e dos Agricultores Experimentadores foi também o momento de celebrar a trajetória de 20 anos da Articulação Semiárido Brasileiro, ASA, em sua luta pela Convivência com o Semiárido. A ASA contribuiu com a construção do Congresso incentivando a participação dos sujeitos sociais do Semiárido durante todos os dias do encontro, reconhecendo a importância da diversidade para agroecologia, a importância dos povos do campo, das florestas e das águas, das comunidades tradicionais, das mulheres, dos jovens e da população LGBTQI.
 
Alexandre Pires, da coordenação executiva da Articulação, ressaltou a importância da celebração neste Congresso que reuniu a diversidade entre o campo e a cidade: “para nós da ASA, celebrar esses 20 anos em uma plenária de agricultores experimentadores, aqui no CBA, é um momento muito rico, que permite fortalecer, ampliar e compartilhar essa trajetória da ASA com vários movimentos de outras regiões do Brasil”, comemora.

A ASA no CBA - XI Congresso Brasileiro de Agroecologia foi marco para a mobilização de organizações e do povo rural do Semiárido, agricultores e agricultoras experimentadores, guardiões e guardiãs de sementes, produtores e produtoras que agroecológicos. Para Alexandre Pires, a presença do povo rural do Semiárido no CBA fortalece o diálogo com pesquisadores, estudantes, professores e professoras e ajuda muito a aproximar a pesquisa acadêmica da realidade das pessoas do campo. “É um passo importante para que os camponeses e camponesas não sejam apenas objetos de pesquisa, mas também sujeitos neste processo.”

E esse troca de deu com atividades durante toda a programação do CBA. O terreiro da inovação camponesa, iniciativa inspirada na experiência da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), trouxe soluções criadas e experimentadas por agricultores e agricultoras, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, para desafios que vivem no seu cotidiano.

“Ao final do CBA, avalio a participação, não apenas das organizações ASA, mas, em especial, dos agricultores e agricultoras do Semiárido - com suas músicas, místicas, falas, trocas e depoimentos, como uma mostra da capacidade do povo rural da região à resistência e à resiliência, neste contexto de muitas perdas que estamos vivendo no Brasil”, avalia Alexandre.

A experiência das mulheres no Reúso da água - Reforçando a premissa de que ‘sem feminismo não há agroecologia’, as mulheres do Semiárido organizaram a atividade autogestionada Mulheres do Semiárido e a Construção de Tecnologias Sociais de Reúso de Água. Mas se engana quem pensa que a oficina ficou apenas na partilha de como funcionam as tecnologias. O centro do diálogo foi a mudança na vida das mulheres a partir do momento que elas acessam alguma política ou tecnologia social. “A chegada da cisterna e do sistema de reúso para mim significa a minha liberdade”, contou Quitéria dos Santos, do Assentamento São Domingos, em Cubati/PB.

Não é novidade que as sertanejas se preocupam com o trabalho doméstico e em gerenciar a água. Isso quando ela existe. Na ausência de água são elas as principais responsáveis pelo abastecimento da casa. E foi para facilitar o seu dia a dia que elas passaram a testar tecnologias de reúso. Sara Constâncio também vive em Cubati e contou que antes mesmo da chegada de um projeto específico com essa finalidade, ela já experimentava soluções. “Até 2012 estava tranquilo, tinha água. Mas com a seca veio a necessidade de aproveitar toda água que eu tinha. Eu vi num programa de TV falando sobre o reúso e decidi reproduzir a ideia com o que eu tinha em casa”.

O Centro Feminista 8 de Março (CF8) também socializou sua experiência com o projeto Água Viva, contemplado com o Prêmio de Tecnologias Sociais, da Fundação Banco do Brasil. A experiência, que já levou a tecnologia para dezenas de mulheres no Rio Grande do Norte, tem como diferencial algumas adaptações a partir das necessidades apontadas pelas agricultoras na sua dinâmica diária. Ivi Dantas, do CF8, afirma que o sistema de reúso permite uma economia de cerca de 48 mil litros de água, praticamente dobrando a disponibilidade do bem quando se compara a uma família que possui uma cisterna-calçadão.

A oficina autogestionada foi organizada pelo CF8 juntamente com o Grupo de Trabalho (GT) de Mulheres da ASA, e contou com a participação de pessoas de PE, PB, AL, SE, RN, PI e SP. Para Graciete Santos, da Casa da Mulher do Nordeste e coordenadora executiva da ASA pelo estado de Pernambuco, no momento que a ASA celebra seus 20 anos, é importante cuidarmos das relações no Semiárido, “sobretudo das mulheres, pois não adianta termos água, alimento e sementes, sem olhar para essa questão tão essencial para a convivência com o Semiárido.”
 
Comunicação e Cultura Popular - A coordenadora da Assessoria de Comunicação da ASA, Fernanda Cruz, mediou a conferência Comunicação e cultura popular: a construção de territórios simbólicos e a disputa de narrativas, que aconteceu durante o CBA . A Conferência levantou questões de como o tema está presente nos territórios agroecológicos e promovem o desenvolvimento e fortalecimento deste modelo de agricultura, que produz alimentos saudáveis ao mesmo tempo em que cuida do solo, da biodiversidade e das pessoas. A conversa contou com experiências concretas e simbólicas de Maria do Céu, agricultora familiar camponesa, sindicalista e feminista, do território da Borborema, na Paraíba, e integrante da Articulação Semiárido (ASA) no estado; de Lidenilson, do Movimento Camponês Popular (MCP), do Pará; e Caio Menezes, professor da Universidade Federal do Piauí.