Mobilização
07.08.2019
Estão chegando as decididas: Marcha das Margaridas é a maior ação de mulheres da América Latina e chega a sua sexta edição
Mulheres indígenas de todo o país também estarão em Brasília/DF, integrando o Fórum Nacional das Mulheres Indígenas, e juntas marcham com as margaridas contra o desmodonte do Estado brasileiro

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Por Catarina de Angola e Fernanda Cruz - Asacom

Mulheres do campo, da cidade, das florestas e das águas estarão em Brasília/DF por seus direitos. | Foto: FETAPE

“Somos de todos os novelos
De todo tipo de cabelo
Grandes, miúdas, bem erguidas
Somos nós as Margaridas”.

Dalva Batista está contando os dias para seguir viagem de Goiana, município localizado na Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco, até Brasília. Será a primeira vez que ela participa da Marcha das Margaridas. “Eu sou nova no movimento, mas percebi que essa Marcha é muito importante para a garantia dos nossos direitos”, disse. Ela explica que a construção da Marcha começou localmente e que também foi preciso bastante diálogo em casa para convencer especialmente o filho do significado dela participar. “Meu marido me apoiou desde o início, porque ele sabe que a Marcha das Margaridas é importante para todo mundo. Meu filho é que ficou meio assim, mas conversamos com ele para que entendesse que eu preciso ir”, contou.

É com essa motivação, de refletir sobre a ainda estrutura machista da sociedade, mas também se fazerem visíveis e apresentarem suas pautas, que mulheres de todos os estados do Brasil estão construindo a 6ª Marcha das Margaridas, que acontece em Brasília/DF, na próxima semana, dias 13 e 14 de agosto, com expectativa de participação de 100 mil mulheres. Com o lema “Vidas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”. No entanto, seu processo de mobilização já começou, pois mulheres do campo, da cidade, das florestas e das águas já estão há muitos meses em preparação para realizar esses dois dias de ação na capital federal. Ainda em 2018, as margaridas iniciaram a construção de suas pautas, de formações, sobre o que significa ser a maior ação de mulheres da América Latina, e o impacto disso em suas vidas e na vida de toda a sociedade brasileira. Estiveram nos sindicatos, organizações, grupos, comunidades, municípios, cidades, estados, refletindo sobre os temas que constroem esta edição da Marcha.

Mesmo que, por diversos motivos, algumas mulheres não conseguiram marchar em Brasília, muitas estão completamente envolvidas no movimento desde o início da articulação. “Estamos trabalhando os eixos temáticos da Marcha das Margaridas e esse material trata dos 10 eixos específicos, mais detalhado, e ele vai subsidiar os debates, os diálogos, as conversas, as reuniões, as plenárias, os encontros e seminários que vão acontecendo daqui até a Marcha das Margaridas”, explicou Maria José Morais, em entrevista à Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), ainda no mês de maio. Mazé, como é mais conhecida, é Diretora de Mulheres da Confederação Nacional dos Agricultores e Agricultoras (Contag). “Nenhuma das Margaridas virá até aqui em Brasília sem saber o que é que vem fazer”, enfatizou, reforçando esse processo de formação e mobilização das mulheres.

No final desta semana, mulheres de vários cantos do Brasil seguem rumo à Brasília em caravanas. Lá serão recebidas por mulheres indígenas, também de todo o País, que no dia 13/08 terão saído nas ruas da capital federal na primeira Marcha das Mulheres Indígenas, que integra a programação do Fórum Nacional das Mulheres Indígenas, que tem início nesta sexta-feira (09). Se reforçarão entre mulheres, que sempre estiveram e continuam em luta contra mais retrocessos sociais, além dos que já estão sendo realizados pelo atual governo federal. “Receberemos a Marcha das Margaridas, que em outras versões nós participamos como integrantes desse coletivo, e dessa vez, enquanto uma diversidade de mulheres do campo, vamos receber outras mulheres do campo. A Marcha das Mulheres Indígenas já era um desejo de mulheres do movimento indígena, de organizar mulheres de todos os povos e pautar suas demandas enquanto mulheres indígenas”, explica Elisa Pankararú, uma das lideranças à frente da Marcha das Mulheres Indígenas, em Pernambuco. Com o tema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, o objetivo é dar visibilidade às ações das mulheres indígenas, discutindo questões inerentes às suas diversas realidades, reconhecendo e fortalecendo os seus protagonismos e capacidades na defesa e na garantia dos direitos humanos, em especial o cuidado com a mãe terra, com o território, com o corpo e com o espírito.

Neste mesmo dia 13/08, em que serão recebidas pelas mulheres indígenas, a Marcha das Margaridas terá em sua programação dedicada também à acolhida das participantes, uma sessão solene, pela manhã, no Plenário Ulysses Guimarães, da Câmara dos Deputados, e a montagem da Mostra de Saberes e Sabores, além de atividades formativas e um ato político e cultural de abertura, à noite. Já o segundo dia (14), será dedicado à Marcha que seguirá da concentração no pavilhão do Parque da Cidade até a Esplanada dos Ministérios.

Adriana Nascimento, Diretora de Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do estado de Pernambuco (Fetape), explica que o processo de mobilização continua forte, mesmo nesta reta final. “Estamos ainda mobilizando mulheres, reunindo-as, explicando o que é a Marcha e porque é importante que o estado vá com uma participação expressiva. Então essa organização das que vão e das que ficam para dar suporte está sendo feita nesse momento”.

Segundo ela, a expectativa do processo de construção da Marcha das Margaridas está, sem dúvida, em torno da apresentação à sociedade brasileira da pauta das mulheres do campo, das águas e das florestas. “Estaremos em Brasília, apresentando a Plataforma Política, entendendo que este ano não podemos pensar em pauta, porque subentende-se que alguém receberia e daria um encaminhamento. Então, estamos consolidando uma Plataforma Política, que é algo para além de pautar o governo. Nosso objetivo é apresentar à sociedade o que as mulheres vêm colocando como direitos que precisam ser assegurados”.

Arlinda Antônia, 69 anos, do município de Santa Cruz da Baixa Verde, conta que vai pela primeira vez para a mobilização, mas explica bem o porquê de se juntar a outras milhares de mulheres em marcha. “Vou estar em Brasília pela democracia e pelo fim da violência contra a mulher. E também pelas políticas públicas como a questão do crédito, o direito à terra, o direito à documentação e tudo aquilo que nós agricultoras, pescadoras e seringueiras precisam para viver com dignidade”, afirma.

A Marcha das Margaridas é organizada pela Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares  (CONTAG) e se constrói em parceria com movimentos feministas e de mulheres trabalhadoras, centrais sindicais e organizações internacionais. As edições acontecem desde o ano 2000. A Marcha homenageia a líder sindical paraibana, Margarida Maria Alves, que dedicou a vida a lutar pelos direitos de trabalhadores e trabalhadoras rurais. Após inúmeras ameaças, Margarida foi assassinada pelo latifúndio, em 12 de agosto de 1983. No entanto, sua semente, enquanto mulher em luta contras as injustiças, foi semeada e se espalhou por todo o país e pelo mundo.


*Com informações da FETAPE.