Planejamento
04.07.2019
Comunidades quilombolas do Semiárido são prioridade em nova etapa dos programas da ASA de acesso à água para consumo humano

Voltar


Por Verônica Pragana

Racismo é uma das questões que estão na mira dos projetos | Foto: Verônica Pragana

As comunidades quilombolas são prioridade máxima na nova etapa dos Programas Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC) e Cisternas nas Escolas, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

Serão implementadas 1.546 cisternas de 16 mil litros em 24 municípios de seis estados - Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia e Minas Gerais. Todas em comunidades quilombolas. Assim como serão capacitadas em gestão e manejo da água a mesma quantidade de famílias.

Já as cisternas escolares de 52 mil litros, serão construídas 256 em 40 municípios. Mas não serão todas em comunidades quilombolas.

A indicação das comunidades beneficiadas será a partir da base de dados da Fundação Palmares, responsável pelo processo de certificação das comunidades como quilombolas, e também do Cadastro Único, um sistema de informações do Governo Federal que reúne informações sobre as famílias que são atendidas pelos programas sociais. 

Esta nova etapa dos programas foi iniciada ontem (3), com a realização da oficina de planejamento P1MC/Cisternas nas Escolas Quilombolas do Semiárido: Luta e Resistência Negra no Campo, em Camaragibe, na região metropolitana do Recife.

Nesta oficina, o primeiro momento é de reflexão para ampliar o olhar dos/as participantes sobre o racismo e a realidade das comunidades quilombolas.

"Se eu luto pela igualdade social, preciso combater o racismo", assegurou um dos participantes. "Com o o racismo foi construído em mim?", questiona outra pessoa. "Como vamos tratar do racismo nas nossas instituições?", acrescenta uma terceira pessoa.

Estas questões ilustram um pouco as reflexões motivadas pela participação de duas representantes da Federação das Comunidades Quilombolas e Populações Tradicionais de Pernambuco, Maria de Fátima e Maria José, que compartilharam suas vivências enquanto quilombolas, ajudando os representantes das organizações da ASA a entender melhor a realidade e especificidades das comunidades afrodescendentes, marcadas pelo racismo enraizado em cada um/a e na sociedade.

Para Célia Araújo, do Coletivo, uma articulação de sindicatos e organizações rurais que atua no Cariri paraibano, o racismo, assim como o feminismo, é um assunto difícil de aprofundar o debate. "Inclusive, dentro de nós", provoca ela. "Ou a gente se coloca como vetor desta mudança, diariamente, em todos os espaços que eu vá, ou não estamos fazendo nada. Se a gente não fala sobre o racismo, vamos fazer de conta que o problema não existe. O difícil não é falar do assunto. O difícil é assumir que o racismo, assim como o machismo, machuca pessoas todos os dias".

Segundo Rafael Neves, da coordenação dos dois programas da ASA que promovem o acesso à água para consumo humano, a intenção desta etapa não é simplesmente a implementação de tecnologias sociais, mas contribuir com uma cultura antirracismo no Semiárido. "A execução de uma política pública direcionada as populações tradicionais quilombolas reforçam a importância destes povos para a sociedade como um todo. Perpetuar a cultura destes povos é importante não só para eles, mas para a cultura de todo o país, assim como a conservação da biodiversidade, uma vez que são guardiões da riqueza natural do território onde vivem."

Os recursos que financiam esta ação vêm da Secretaria de Promoção de Igualdade Racial, do Ministério de Direitos Humanos, que direcionou R$ 12.680.823,81 para o Programa Cisternas, vinculado ao Ministério da Cidadania. Este total vai tornar realidade 3.604 cisternas de 16 mil litros construídas com placas de cimento ao lado das casas das famílias.