Acesso à Terra
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A luta pela terra no Alto Sertão da Paraíba

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Em 18 municípios, camponeses experimentam outra forma de produção pautada na produção de alimentos saudáveis.

O Alto Sertão da Paraíba está localizado na região semiárida. O contexto social era bastante adverso visto que a região constantemente vivenciou e vivência anos consecutivos de secas. A situação do Nordeste é ainda mais grave por conta do alto índice de flagelados da seca e da cerca do patrão, motivo que justifica a grande quantidade de camponeses prestes a morrer de fome e sede e, mesmo assim, eram obrigados a calar o grito de revolta e de dor, pois a ditadura militar reprimia ferrenhamente qualquer grito da população. Diante desta realidade, a igreja encarnada na Teologia da Libertação no Estado da Paraíba assumiu o compromisso de contribuir com a formação das populações camponesas na perspectiva de libertá-las da condição de submissão e exploração em que se encontravam sucumbidos.

Concentração da terra e da água - A luta pela terra no Alto Sertão nasce a partir da concentração da terra e da água. A política de COMBATE AS SECAS estava voltada para a construção de grandes açudes e barragens na região de Catolé do Rocha, Bonito de Santa Fé e Triunfo gerando grandes impactos para as famílias camponesas residentes nas proximidades dos reservatórios. A política de combate à seca veio fortalecer ainda mais o latifúndio, pois as terras onde foram construídos os reservatórios eram desapropriadas e, mesmo assim, as oligarquias locais continuavam cobrando renda as famílias residentes nas áreas. Nos anos de 1986 foi criada na Diocese de Cajazeiras a Pastoral Rural com o papel da formação bíblica às famílias camponesas. A partir do processo de formação, as famílias foram se conscientizando sobre os seus direitos, principalmente do acesso à terra e à água. Com a maior mobilização das famílias na luta pela terra, a Pastoral Rural em 1988 passa a ser Comissão Pastoral da Terra (CPT Sertão PB). As primeiras lutas pelo acesso à terra e à água foram nas margens dos açudes públicos de Riacho dos Cavalos – Mutirão, Triunfo – Três Irmãos, Bonito de Santa Fé – Bartolomeu e Jericó – Recanto somando um número de 164 famílias nas quatro áreas.

Ocupação do latifúndio - A ocupação da fazenda Acauã com 2823 hectares localizada no município de Sousa foi ocupada dia 02 de dezembro de 1995, com as famílias vindas de 08 municípios da região. As terras pertenciam ao latifundiário Clotário de Paiva Gadelha, do grupo Gadelha. Na época, Marcondes Gadelha era secretário da Agricultura do Estado.
Foram 08 meses de intensiva luta, com 7 despejos, 7 prisões, muita resistência, pouco apoio da população local, pois era a primeira luta em terras privadas e de um grupo político na época muito forte. A luta era acompanhada pela CPT Sertão. Outro fato com grande repercussão foi o primeiro despejo que aconteceu no terceiro dia. Cerca de 140 soldados, todos com armas pesadas, acompanhados de médicos, enfermeiros e ambulância. Populares da cidade fretaram carros e foram ver o despejo. Para todos era novidade. Em 14 de outubro de 1996 aconteceu a emissão de posse de 114 famílias no assentamento Acauã agora pertencendo ao munícipio de Aparecida. O assentamento, desde a criação, conta com uma gestão compartilhada envolvendo associação, grupos e igreja. Apos a luta de Acauã surgiram tantas outras. Fruto da ação da CPT Sertão PB são 37 assentamentos e 08 acampamentos.
Assim, em 18 municípios com a existência de terras reformadas, estão camponeses estão experimentando outra forma de produção pautada na produção de alimentos saudáveis, garantia da segurança e soberania alimentar. São esses: Riacho dos Cavalos, Catolé do Rocha, Jericó, Lagoa, Pombal, Paulista, São Domingos, Aparecida, São José de Lagoa Tapada, Sousa, Lastro, Marizópolis, Cajazeiras, Bonito de Santa Fé, Cachoeira dos Índios, Triunfo, Santa Helena e Poço Dantas.