P1+2
30.11.2016
Encontro do P1+2 aponta resultados positivos da ação da ASA

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Por Elka Macedo - Asacom

Encontro do P1+2 aconteceu durante o IX EnconASA |Foto: Thiago Matias

“A gente sabe que a ASA mudou a vida de muitas pessoas por onde passou. Porque a ASA não levou só uma cisterna pro nosso quintal levou um carretel de conhecimento para cada um e cada um, principalmente pra nós mulheres. A ASA nos libertou, a gente era presa a um passado, a gente não conseguia sair de casa porque tinha medo. As tecnologias do P1+2 e P1MC mudou as nossas vidas”, foi assim que a agricultora experimentadora, Erisvalda, da comunidade quilombola Mumbuca localizada no município baiano de Bom Jesus, avaliou a ação da Articulação Semiárido Brasileiro.

A intervenção da agricultora ocorreu durante o Encontro Estadual Ampliado de Avaliação do P1+2 que aconteceu na tarde do último dia 22, durante o IX EnconASA (Encontro Nacional da ASA), em Mossoró (RN) e expôs vários aspectos que marcaram a execução do Programa, sobretudo quanto ao Termo de Parceria em execução. O objetivo do evento foi de avaliar e monitorar as ações do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).  Para a equipe gestora da ação, nas últimas etapas foi possível inovar na metodologia de monitoramento, estimulando o olhar das equipes para as experiências locais, bem como aumentando a visibilidade das estratégias de produção de alimentos nos agroecossistemas do Semiárido.

Esse Termo de Parceria já é maior que a soma de todos os outros termos de parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). E o maior contrato executado pelo P1+2, entre todos os parceiros/financiadores. A ação já soma 91.263 pessoas beneficiadas; 23.777 famílias agricultoras; 201 municípios; 9 Estados no período de dezembro de 2013 a dezembro de 2016. Para além da implantação das tecnologias, a ação do Programa propiciou a leitura da realidade nos territórios: conflitos no campo, períodos de estiagens; organizações populares, além de facilitar as trocas de experiências entre agricultores/as, técnicos/as e os parceiros acerca das estratégias de convivência com o semiárido.

Sobre os desafios, o coordenador do P1+2 Antonio Barbosa destacou que ainda há muitas famílias que ainda não têm acesso a água potável no país. “A gente deve ter ainda em torno de 275 mil famílias sem água de beber. Nós precisamos, de fato, chegar nesta perspectiva. Precisamos também continuar avançando no P1+2. O P1+2 não é caro, é baratíssimo, e trabalha com geração de renda, produção de alimentos saudáveis e nós não podemos perder isso de vista. Devemos continuar fazendo a batalha inclusive, para transformar o Semiárido no maior produtor e também consumidor de alimentos saudáveis desse país. Vamos atrás de todas as formas possíveis porque água para nós é direito, e direito a gente não negocia a gente acessa”, explicitou.

Na plenária, agricultores e agricultoras falaram sobre os impactos dos programas da ASA em suas histórias de vida e também das suas comunidades. A comunicadora popular da ASA Sergipe, Daniela Bento, reforçou a importância da sistematização das experiências das famílias para o fortalecimento da autoestima e do protagonismo das mulheres. “Até então nós tínhamos um Semiárido contado pela lógica machista parecia que só os homens produziam e construíam no Semiárido e com os Candeeiros foi uma questão de além da mesa farta as mulheres conseguiram ter suas histórias registradas e contadas”. 

Na ocasião, a Secretária-Adjunta do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), Lílian dos Santos Rahal, salientou a relevância da ação da ASA para mitigação dos efeitos das mudanças no clima. “As secas prolongadas mostram que esse é um caminho acertado para ter uma adaptação mínima às mudanças climáticas. Ter essa capacidade de mobilização e de implantação é tão importante pra vocês quanto para o Governo. Nós acreditamos que temos que chegar a um grande número de famílias que ainda não têm a primeira água”. Sobre os investimentos em políticas de convivência, ela explicou que há possibilidade de redução nos investimentos para a construção de tecnologias e que, com a aprovação da PEC 55, a perspectiva é bem pior.

Pesquisa ASA/INSA

O evento teve participação ativa da plenária | Foto: Thiago Matias

Durante o Encontro, foram apresentados alguns resultados econômicos da pesquisa intitulada Sistemas Agrícolas Familiares Resilientes a Eventos Ambientais Extremos no Contexto do Semiárido Brasileiro: alternativas para enfrentamento aos processos de desertificação e mudanças climáticas. O estudo realizado pela ASA em parceria com o Instituto Nacional do Semiárido (INSA) teve duração de três anos e traz importantes resultados sobre o impacto das tecnologias de convivência com o semiárido na vida das famílias agricultoras.

A ação ao longo desses três anos se desenvolveu em 10 territórios de nove estados do Semiárido. Em cada território foi analisado um total de cinco propriedades. Ao longo desse período foram ouvidas 50 famílias sobre o impacto da tecnologia na segurança alimentar na renda.

Na apresentação dos resultados feita por Luciano Silveira da AS-PTA foi exposta uma média das análises econômicas dos agroecossistemas de 15 famílias, com e sem as tecnologias implantadas pelo P1+2 no ano agrícola 2014-2015.  Com o cruzamento de dados pode-se concluir que a renda das famílias quase dobrou com a conquista das tecnologias, saindo de uma média de R$ 9.650,00/ano para R$ 17.575,00/ano.

“A gente coloca em evidência [com a pesquisa] para os gestores públicos que ainda têm dúvida se vão continuar nos apoiando a importância e assertiva de continuar apoiando o Programa Uma Terra e Duas Águas. O que foi feito foi muito pouco, mas não podemos perder esse gérmen que está nas nossas mãos, e transformar ele num plano de vida plena para todo o Semiárido”, enfatiza Luciano Silveira.