Sementes crioulas do Semiárido
23.08.2019
Projeto Agrobiodiversidade do Semiárido inicia atividades com primeiro módulo de formação

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Por Catarina de Angola - Asacom

Neste primeiro módulo de formação, a visita de campo foi ao campo de multiplicação de sementes da Embrapa Semiárido, em Petrolina | Foto: Catarina de Angola/Asacom

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) iniciaram as atividades do projeto Agrobiodiversidade no Semiárido com um primeiro módulo de formação, em Petrolina, no Sertão do São Francisco de Pernambuco, entre os dias 19 e 23 de agosto. A atividade reuniu cerca de 40 pessoas, entre equipes da ASA, das Embrapas Semiárido, Meio Norte, Tabuleiros Costeiros, Recursos Genéticos e Biotecnologia e de organizações da sociedade civil que atuarão com o projeto em cinco estados do Semiárido brasileiro. O projeto integra o Programa Inova Social, iniciativa da Embrapa, e tem apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).

“É uma satisfação enorme ver os projetos começando a executarem as atividades planejadas. Para todas as instituições é um processo novo, para Embrapa, para o BNDES, para as instituições parceiras. Pois é uma lógica do desenvolvimento, aliada a um processo de pesquisa participativa, de construção do conhecimento. Tudo isso, para além de uma agenda difusionista com adaptação de todas as entidades que fazem parte dessa rede que é a rede do Programa Inova Social”, explica Cristhiane Amâncio, presidente do Portifólio de Inovação Social da Embrapa.

O projeto Agrobiodiversidade do Semiárido têm previsão de três anos de atividades e visa ampliar a proteção às sementes crioulas e inseri-las nas políticas públicas de sementes. Sua atuação está organizada em módulos, que são momentos de formação, e intermódulos, que serão os momentos de execução das ações. “O início do projeto é uma ocasião tanto de celebração quanto de muita informação, e acontece neste momento em que estamos tendo um enfraquecimento da legislação ambiental, das políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e para a conservação da agrobiodiversidade. Então, fazer esse programa acontecer tem uma importância maior ainda”, explica Maitê Maronhas, assessora de coordenação da ASA para o Projeto Agrobiodiversidade do Semiárido.

A realização deste primeiro módulo em Petrolina contou com o lançamento do projeto no primeiro dia (ver aqui) e com atividades coletivas de formação e planejamento, incluindo visita de campo, com aprofundamento no processo de implantação de campos de multiplicação de sementes. Um dos momentos iniciais da formação contou com a construção de uma linha do tempo com marcos e políticas no campo da pesquisa, poder público e sociedade civil relacionados às sementes crioulas no Semiárido brasileiro. Foram mapeados marcos entre os anos de 1980 e 2015, ano em que a ASA iniciou as ações com o Programa Sementes do Semiárido.

Para Edson Guiducci Filho, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, sediada em Brasília/DF, esse foi um momento essencial e indicador da dinâmica do projeto. “Iniciar um projeto com um módulo como esse, com as pessoas se conhecendo, numa dinâmica muito interessante, onde está todo mundo conectado tem um diferencial. E trazer a trajetória do Semiárido, como a gente construiu a linha do tempo, relembrando coisas, momentos marcantes, todo mundo podendo se referenciar nessa linha, além de um aprendizado para muita gente, dá uma segurança para seguirmos na caminhada, porque vamos ancorados num processo de reflexão e ação”, disse.

No projeto, estão previstas estratégias de valorização do material genético, conservação e multiplicação das sementes crioulas e influência nas políticas públicas. E durante a formação em Petrolina, todas as pessoas participantes visitaram o Campo Experimental da Embrapa Semiárido, em Petrolina. Durante a visita, a equipe acompanhou um experimento de implantação de campos de multiplicação, atividades previstas na ação a ser realizada por todos os territórios. “Nossa tarefa com o projeto é fazer um trabalho com resgate, multiplicação e preservação dessas sementes crioulas, que no Piauí chamamos Sementes da Fartura, e estão desaparecendo por conta da entrada de sementes transgênicas, híbridas e biofortificadas no Brasil. E também um momento de fortalecimento das casas de sementes já existentes, fortalecendo no Piauí a Rede de Sementes da Fartura, mas também a ação já iniciada pela ASA com o Programa Sementes do Semiárido”, explicou José Maria Saraiva, da organização CERAC, no Piauí.

Na formação, uma das questões levantadas é como o projeto contribui para visbilizar a importância e papel das mulheres na preservação da agrobiodiversidade, além de criar condições para a autonomia delas na ação. “É um desafio para nós da ASA e para a Embrapa. Mas nós da ASA não estamos do zero, a gente vem com essa demanda nos outros programas. E no Sementes do Semiárido já começamos a enfrentar toda essa discussão da produção das mulheres, da economia feminista, da divisão sexual do trabalho, pensando em outras ferramentas. Então há passos, mas precisamos pensar em como a gente concilia toda uma produção de conhecimento que reconheça esse saber das comunidades, e, novamente, das mulheres. E estamos falando de casas de sementes, de uma gestão comunitária e pra mim esse é outro grande desafio”, pontuou Graciete Santos, coordenadora executiva da ASA.  

O projeto Agrobiodiversidade do Semiárido atuará simultaneamente em sete territórios nos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Paraíba e Piauí, com envolvimento de sete organizações que integram a ASA. “Estamos falando de semente pra autoconsumo, e diversidade alimentar, de garantia do direito à vida. Então, esse é um grande desafio. Mas tem que existir um compromisso da sociedade brasileira e do Estado brasileiro pelo Semiárido, com as pessoas do Semiárido”, pontua Christiane Amâncio, também coordenadora do Programa Inova Social.