Intercâmbio
14.02.2019
Riqueza, diversidade e empreendedorismo no pé da Chapada do Araripe

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Por Fernanda Cruz - Assessoria de Comunicação da ASA

A cada momento, a cada encontro e a cada reencontro é uma oportunidade para os agricultores e agricultoras experimentadores baterem um papo e trocarem ideias. A ameaça da reforma da previdência, as mudanças que vêm fragilizando os sindicatos rurais e o preço do milho, foram alguns dos assuntos que permeavam uma conversa animada entre agricultores do Maranhão, do Rio Grande do Norte e o guia do grupo, seu Dalmir Brasil, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) do Crato. Todos sentados nas primeiras cadeiras do ônibus que seguia rumo ao intercâmbio nas comunidades de Bebida Nova e Coruja. 

Ao lado deles, Maria do Carmo, de Alagoas, que está participando do evento como técnica, começou a falar como estava sendo bom ter vindo para o evento. Embora ela tenha afirmado ser alguém que ouve mais do que fala, estava animada para voltar e repassar os aprendizados acerca das plantas e ervas medicinais para outras mulheres do estado. “Lá eu desenvolvo um trabalho com mulheres de comunidades carentes, mostrando o potencial das plantas medicinais, especialmente a Moringa”, conta ela, sentindo-se privilegiada por poder participar do evento. “Isso aqui é uma oportunidade única. Ontem vimos uma pessoa tão simples [referindo-se a dona Ana, do Assentamento 10 de Abril], mas com tanto ensinamento. A gente aprende muito”.

Nem mesmo os percalços da viagem desanimaram o grupo. Apesar dos 20 km de viagem, o trecho até chegar no destino final, no pé da Chapada do Araripe, era difícil de ser percorrido de ônibus e forçou uma caminhada de 2km num chão hora de pedra, enladeirado; hora de areia fofa, para chegar até a propriedade de Ronaldo Gois, em Bebida Nova, a primeira parada do grupo.

Ao se depararem com a beleza e a imensidão da área dele, não teve cansaço certo. “Nossa! Valeu muito a pena! A gente sempre aprende muito nesses encontros”, disse Gerlane Romão, de Flores (PE).  Ela foi uma das pessoas que saiu da propriedade com uma muda de batata yacon, uma novidade para os visitantes. Segundo Ronaldo, essa variedade é excelente para diabéticos, além de muito saborosa. Apesar da aparência de macaxeira, por dentro ela tem a textura e o sabor adocicado de uma maçã.

Nos quase 20 hectares de área ele também cultiva araçá, sapoti, mamão, maracujá do pará, amora, azeitona roxa, diversos tipos de laranja e limão e tem desenvolvido uma experiência com o cultivo de maçãs. Além disso ele tem uma horta onde produz tomates, folhas, entre outras; uma área de agrofloresta e outra de mata nativa intocada. Água não é um problema, pois a terra conta com uma nascente, mas ela é muito bem aproveitada. Tudo isso é fruto do trabalho dele juntamente com o irmão e 3 sobrinhos.

Quem vê a propriedade de Ronaldo nem imagina que ele ainda tem planos para o local. “Quero trabalhar com abelhas, fazer um espaço para receber as visitas – que hoje são muitas – e ainda abrir o espaço para o turismo rural. 

Grupo com Cícera Edna e sua família | Foto: Fernanda Cruz

Em seguida, o grupo conheceu a experiência de Cícera Edna, da comunidade Coruja, voltada para o beneficiamento e comercialização de bolos, sequilhos e peta. Ela vende seus produtos na feira do Crato e também através do Programa de Aquisição e Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A cada feira ela chega a vender 60 bolos e 45 pacotes de sequilhos, o que a tem levado a acessar o Pronaf para melhorar sua infraestrutura para produção. 


Ela conta que tudo que fabrica é feito com matéria prima da agricultura familiar e sem uso de veneno. Atualmente, os produtores acompanhados pelo STTR do Crato e pela Prefeitura Municipal estão no processo para conquista do selo de orgânicos. “Tem sido um processo burocrático, mas que também ensina muita coisa a gente e no fim será bom para nós”.

A história de Cícera levou dona Maria Aparecida Almeida, da Bahia, a lembrar da sua experiência no sindicato rural do seu município. “Começamos com uma feira para as mulheres uma vez por mês. Depois foi crescendo e passou a ser a cada 15 dias e hoje é uma vez por semana. Esse apoio do sindicato realmente é muito importante”, destacou.

Para Gilmar, de uma comunidade de fundo e fecho de pasto, na Bahia, “essa têm sido uma vivência muito boa. Eu participei de um intercâmbio pela primeira vez em 2013 na propriedade de Vilmar [agricultor, morado do sítio Paus Dóias, em Exu/PE] e hoje tenho um quintal inspirado no que vi lá. Isso aqui nos dá ânimo para gente sempre renascer e levar coisas novas para nossas comunidades”.