Vir a ser
13.12.2018 PB
Com vitalidade e pulsação, a ASA Paraíba se encontra para celebrar seus 25 anos e planejar 2019

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Por Áurea Olímpia - Núcleo de Comunicação da ASPTA

Ficamos nos perguntando o que vamos fazer e a resposta é o que sempre fizemos: pequenas experiências, feitas por pequenas pessoas em muitos lugares que transformam o mundo | Foto: Thaynara Policarpo/Arquivo ASA PB

Reunindo em torno de si cerca de 300 organizações sociais do campo, a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba) realizou mais um momento de celebração dos seus 25 anos. Na terça e quarta desta semana (11 e 12), 40 lideranças históricas dos sete territórios de atuação da rede se reuniram em Campina Grande para lançar um olhar sobre a história da articulação e planejar o futuro.

Uma mística que uniu a contribuição de quem faz a rede atualmente com aqueles/as que colaboraram em outros momentos abriu o encontro. Foram lembrados os mártires da luta pela terra, que seguem presentes na caminhada - apesar de não mais fisicamente. Entre estes, os dois militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra da Paraíba (MST-PB), assassinados de forma brutal no sábado passado (8) no acampamento Dom José Maria Pires, no município de Alhandra.

“Trazemos aqui a memória dos dois companheiros, Orlando Bernardo e Rodrigo Celestino, que tombaram na luta pela terra, sabemos que muitos outros ainda tombarão, mas que seu exemplo de luta e de coragem vai continuar nos inspirando na nossa caminhada”, disse Rejane Alves, assessora pedagógica da ASA Paraíba. O momento foi encerrado com a música “Samba da Utopia” de Jonathan Silva.

Em seguida, Glória Araújo, da coordenação nacional da ASA Brasil e da coordenação executiva da ASA Paraíba, anunciou: “Estamos aqui para reconstruir a nossa trajetória e celebrar os 25 anos, mas não só isso, vamos também pensar o futuro, quais as nossas estratégias de resistência daqui para frente”, disse.

Luciano Silveira da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia facilitou um momento de construção de uma linha do tempo dividida em três períodos: de 1993 a 2002; 2003 a 2010 e 2011 a 2018. “Resgatar nossa história nesse momento é olhar para frente também. Olhar para o que construímos tem o objetivo tirar referências, ver quais foram as inovações, as metodologias, os princípios e como fomos nos constituindo enquanto rede, o que ajuda a nos desafiar para o futuro”, anuncia Silveira.

Entre os grandes marcos desta história, foram destacados: a seca de 1993 como um momento de crise e de grande mobilização, que culminou na ocupação da Sudene em 1993, quando a ASA-PB foi fundada; a criação da ASA Brasil em 1999; o Programa Trabalho por Alimento; o Grupo Lua Cheia, que fez a ponte na região entre a universidade e os movimentos; o Pronaf Capacitação que financiou 60 intercâmbios entre agricultores no estado, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso; as políticas públicas de apoio à agricultura familiar como os programas de compra direta governamentais (PAA, PNAE), programas de acesso à água (P1MC, P1+2, Cisternas nas Escolas); Caminhos da Escola; Programa Sementes do Semiárido; a criação da AP1MC em 2003, que faz a gestão física e financeira dos programas da ASA; a afirmação do lema “Sem Feminismo não há Agroecologia” a partir do III Encontro Nacional de Agroecologia; a influência da ASA Paraíba nas políticas públicas de segurança alimentar, inclusive tendo a primeira mulher a ocupar a presidência do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional da Paraíba (Consea-PB).

O segundo e último dia de encontro foi de reafirmação dos princípios que movem a rede como a convivência com o Semiárido; o feminismo e o respeito à diversidade sexual e religiosa; a conservação das sementes crioulas e livres de transgênicos; a valorização das raças locais e adaptadas; a economia solidária e a comercialização em rede; a comunicação democrática; o protagonismo dos agricultores e agricultoras; a valorização da cultura popular e local; o fortalecimento da juventude camponesa e a construção coletiva do conhecimento.

No período da tarde, foi a vez de refletir coletivamente sobre os desafios da rede e tirar orientações estratégicas para os próximos anos. “Temos um exercício a fazer, que é esse trabalho de descobrir lideranças nas comunidades, através dos fundos rotativos solidários, por exemplo. Não podemos ter vergonha de defender os ideais socialistas, está aí o capitalismo matando gente, pessoas ficando adoecidas, precisamos manter vivas as nossas ideias e o nosso projeto de sociedade”, disse Raniere Ferreira, do Centro de Organização Popular (Ceop), sediado no município de Picuí, no Alto Sertão do estado.

“É preciso lembrar que governo e poder são coisas distintas, tivemos um governo do nosso lado, mas nunca tivemos o poder, que permaneceu nas mãos dos mesmos de sempre. O momento é delicado, não sabemos se a figura do novo presidente vai resistir, mas o projeto de poder que o elegeu sim, está forte”, comentou Olivânio Dantas, liderança do município de Picuí-PB e que atualmente exerce seu primeiro mandato como prefeito pelo Partido dos Trabalhadores.

Como principais desafios, foram colocados o problema da volta da fome no país; a nova relação entre sociedade civil e Estado, diante da ascensão da extrema direita; a construção da resistência necessária para enfrentar a ofensiva do agronegócio e a onda conservadora.

“Precisamos estar preparados para o fato de que o que é ruim, pode piorar. Às vezes ficamos nos perguntando o que vamos fazer e a resposta é vamos fazer o que sempre fizemos: pequenas experiências, feitas por pequenas pessoas em muitos lugares que transformam o mundo”, comentou Ary Sezyhita, do Serviço Pastoral do Migrante do Nordeste (SPM-NE).

Neste sentido, a ASA reafirmou o investimento de energia no fortalecimento das redes temáticas, com suas formas coletivas de gestão dos bens comuns, a exemplo dos bancos de sementes comunitários, os fundos rotativos solidários, o uso dos maquinários e equipamentos. Também foi deliberado que a ASA-PB trabalhará para a criação de uma Frente Parlamentar em Defesa do Semiárido e para a intensificação do diálogo com a cooperação internacional.

Para 2019, foram reafirmadas a realização da 8ª edição da Festa Estadual das Sementes da Paixão; a continuidade da sistematização de experiências protagonizadas pela juventude; a retomada do Encontro Paraibano de Agroecologia; e a preparação do estado para o Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores que ocorrerá em fevereiro de 2019, no qual a Paraíba apresentará experiências no campo das juventudes e das mulheres.

O ano comemorativo teve início em junho passado. A partir daí, houve o lançamento do site www.asaparaiba.org junto ao selo comemorativo dos 25 anos. As comemorações se encerrarão em junho de 2019 e tem como lema “Resistência e Democracia cultivando vidas no Semiárido”.

Ao fim do encontro desta semana, teve “bolo de aniversário” e parabéns para a ASA, que culminou com as palavras de ordem entoadas nos nove estados da região desde 2012: “É no Semiárido que a vida pulsa! É no Semiárido que o povo resiste!”