PEDAGROECO
30.08.2018 PB
Oficina realizada com jovens discutiu ancestralidade, identidade camponesa e formas de comunicar
O evento foi realizado entre os dias 24 (sexta) e 25 (sábado), com jovens articulados pelo GT Juventude e Agroecologia da Articulação do Semiárido Paraibano – Asa PB - trouxe como tema “Retratos da Juventude Camponesa no Semiárido paraibano”. A atividade aconteceu na comunidade Sussuarana, localizada no município de Juazeirinho.

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Por Simone Benevides | Fotos: Ascom Embrapa/Comunicadores Asa PB

Dinâmica de grupo durante a oficina na Paraíba.

Jovens dos territórios dos Cariris (Coletivo e Casaco), Borborema (Polo Sindical) e Agreste (Folia) foram acolhidos pelas famílias da comunidade. O objetivo deste encontro foi facilitar o processo de reconhecimento da identidade e ancestralidade camponesa das juventudes no Semiárido paraibano, buscando a valorização e visibilidade das ações que vem sendo desenvolvidas pelas juventudes no campo da agroecologia.

Essa ação faz parte de uma iniciativa do Projeto Pedagroeco que é desenvolvido pela Embrapa em parceria com cinco estados do Nordeste sendo a Paraíba um deles. A metodologia proposta é a Pedagogia Griô e como resultados desse projeto serão produzidos materiais de comunicação feitos pelas juventudes que retratem suas experiências.

Durante os dois dias os jovens estiveram imersos no resgate de suas histórias de vida e tratando temas geradores como agroecologia, comunicação e produção partilhada do conhecimento.

Na sexta-feira (24), pela manhã houve uma interação entre os jovens com ciranda e a roda da benção, onde cada participante ao se apresentar fez memória e pediu a benção a uma pessoa importante da sua vida, em seguida uma roda de contação de história, com uma das primeiras lideranças da comunidade Sussuarana, a mestra Dona Maria Clarindo (77), que contou sua trajetória na luta por melhorias para as famílias, na década de 1980. Descreveu a sua filiação ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Juazeirinho, junto com Zé Pequeno, hoje já falecido, e iniciaram todo um processo de formação através do Fundo Rotativo Solidário (o que possibilitou a chegada das primeiras cisternas), dos Bancos de Sementes e das primeiras mudas de plantas nativas e adaptadas para a região.

Dona Maria encerrou sua fala dizendo aos jovens para não desistirem dos seus objetivos e nem de lutar pela agricultura familiar de base agroecológica “A agricultura é o eixo do mundo. Dela vem tudo, do que adianta o dinheiro se não tiver o que comprar”, finalizou.

Seguindo o roteiro de atividades, na parte da tarde, os jovens foram estimulados a fazer um resgate da infância. Através de uma roda estrelar, buscaram na memória, momentos vivenciados na infância e das ações que fazem hoje em suas comunidades, depois descreveram em desenhos e numa roda de diálogo partilharam suas histórias de vida.

Ainda na sexta à noite, houve um cine debate motivado pelo vídeo “O Semiárido contado por sua gente”, que reuniu, além dos jovens, outras pessoas da comunidade que participaram e debateram sobre a comunicação como um direito humano, sobre as questões relacionadas ao período eleitoral e sobre a conjuntura política vivenciada pelo Brasil nos últimos dois anos.

No último dia, sábado (25) os participantes puderam assistir a dois curtas metragens (Cumade Fulozinha e a volta do filho da terra e Logo ali) que foram produzidos pelos jovens da própria comunidade (Sussuarana) e de Canoa de Dentro, em Pedra Lavrada, o que ajudou a buscarem inspirações na produção dos instrumentos de comunicação que deverão ser produzidos dentro do Projeto Pedagroeco.

Em seguida, realizaram um trabalho em grupo para discutir sobre as formas que deverão comunicar seus trabalhos no campo da agroecologia para outros espaços, além das organizações. Diversos caminhos foram apontados: produção de vídeo, teatro, contação de histórias, dança, musica, etc. Temas como: Fundos Rotativos Solidários, acesso à água e à terra, produção e comercialização de alimentos saudáveis, resgates das sementes da paixão, criação animal e questões de gênero foram apontados pelos jovens como sendo importantes para serem sistematizados. A atividade foi encerrada com um almoço e o próximo encontro foi agendado para os dias 28 e 29 de setembro.

O Projeto Pedagroeco e a Pedagogia Griô - A oportunidade tem sido um instrumento valioso para as formações do GT Juventude da ASA PB, pois a reflexão para atingir as metas do projeto oportuniza o surgimento de temas geradores como questões de gênero, etnia, raça, diversidade sexual e religiosa e as questões politicas da conjuntura atual. Tais temas devem ser aprofundados dentro do processo de formação dos jovens.

A Pedagogia Griô foi criada pela educadora Lillian Pacheco,a partir da sua prática pedagógica no Grãos de Luz e Griô, Lençóis Bahia. Oferece uma iniciação pedagógica da escola e de griôs aprendizes para integrar mito, arte, ciência, história de vida e todos os saberes e fazeres tradicionais da comunidade. Coloca como centro do saber a vida, a identidade e a ancestralidade dos estudantes. A vivência, a oralidade e a corporeidade são referências do processo de elaboração do conhecimento; e os griôs e mestres protagonistas na educação da comunidade. Tem como referências pedagógicas educadores e pesquisadores brasileiros da educação biocêntrica, da teoria de Paulo Freire, da educação para as relações étnico raciais positivas, e dissertações acadêmicas que já versam sobre a própria pedagogia griô.