Juventude no campo
07.08.2018 PB
6ª Feira Agroecológica e Cultural da Juventude Camponesa discute os riscos dos agrotóxicos e atrai bastante gente

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Por Áurea Olímpia - Núcleo de Comunicação da ASPTA

Feira agroecológica com jeito da juventude | Foto: Arquivo ASPTA

Na manhã da sexta-feira passada (3), mês em que se comemora o Dia Internacional da Juventude, a Comissão de Jovens do Polo da Borborema, uma rede de 14 sindicatos de trabalhadores rurais da região do Agreste da Borborema, na Paraíba, comemorou a data realizando a sexta edição da Feira Agroecológica e Cultural da Juventude Camponesa, em Lagoa Seca (PB). As Feiras da Juventude acontecem duas vezes por ano e buscam dar visibilidade ao trabalhado dos jovens agricultores, onde podem expor e comercializar produtos, trocar experiências e desenvolver talentos artísticos.

O evento aconteceu no centro de Lagoa Seca-PB, município distante 9km de Campina Grande e atraiu centenas de pessoas a procura de alimentos mais saudáveis, como a dona de casa Maria Tomé de Souto, moradora da cidade que soube da feira pelo esposo e fez questão de comparecer: “Essa é uma iniciativa muito boa, pois é uma oportunidade para que os jovens fiquem na agricultura. Antigamente, só o que a gente via era o jovem ir embora trabalhar fora, então com espaços como esse, podem trabalhar na terra”, comentou.

Em 2018, a Feira trouxe o tema: “Alimentar com Agroecologia é promover a Democracia”, como um alerta à sociedade acerca da forma antidemocrática com que matérias como o Projeto de Lei Nº 6.299/02, conhecido como o ‘PL do Veneno’, que reduz o controle sobre o uso de agrotóxicos, vem sendo aprovados em comissões da Câmara dos Deputados, à despeito dos enormes riscos à saúde da população. Abrindo a feira, uma encenação, mostrou que existe um setor da sociedade ligado ao agronegócio, que está muito bem organizado e representado no Congresso Nacional, na chamada bancada ruralista, que tem os olhos voltados para altos lucros, sem maior preocupação com o meio ambiente e a saúde das pessoas. “Estamos vendo essa bancada ruralista aprovar o PL do veneno e está na hora de debater a democracia, a política, os jovens têm entendimento sobre isso e precisamos fortalecer a agroecologia nesse cenário”, afirmou Ana Paula Cândido, liderança da Comissão de Jovens do Município de Queimadas.

Uma novidade desta feira foram as duas Tendas Pedagógicas, uma representava a ‘agricultura da morte’ , o agronegócio, e a outra a agricultura agroecológica, uma alternativa para a produção de alimento em todo o planeta.

“Todo mundo quer viver muito, mas às vezes esquecemos de querer viver bem, então, estamos aqui para mostrar, com nosso trabalho, com nossa produção, que a agroecologia, é o caminho para promover a nossa saúde, respeitando todas as outras formas de vida, seja vegetal, seja animal, a natureza em si”, disse o jovem Mateus Manassés, de 22 anos, agricultor e criador do sítio Soares, município de Queimadas, em seu depoimento durante a feira.

Jéssica Raquel Pereira dos Santos, de 26 anos, do Assentamento Oziel Pereira, em Remígio, também deu o seu depoimento enquanto jovem feirante. Ele faz parte da EcoBorborema, associação de feirantes agroecológicos do Polo da Borborema, que organiza atualmente uma rede de 12 feiras agroecológicas na região e é parceira da Comissão de Jovens na realização das Feiras da Juventude.

Desde pequenos - Lívia Cirino dos Santos Freitas, de 14 anos, participou pela segunda vez da Feira Agroecológica e Cultural da Juventude, ela e os primos vieram do Sítio Mineiro, em Lagoa Seca e trouxeram laranja, batata doce, goiaba, macaxeira, jerimum e chuchu. Carlos Henrique Flor da Silva, de 14 anos, fez questão de dizer: “Essa macaxeira foi colhida hoje, por mim”. Assim como eles, Deiziane Alexandre Ferreira, de 14 anos, do Sítio Cachoeira do Gama, em Matinhas-PB, se envolveu na Comissão de Juventude por meio da Campanha pela Valorização da Vida na Agricultura Familiar, um trabalho que envolve crianças filhos e filhas de agricultores da região do Polo da Borborema. “De tão nova, nem lembro quando comecei a participar, mas sempre ia para as reuniões com minha mãe e, aos 11 anos participava da campanha com as crianças, hoje já participei de vários encontros da juventude e hoje estou aqui na feira, pela segunda vez”, disse.

O que a feira teve? - A feira expôs uma diversidade grande de produtos como macaxeira, fava, feijão, jerimum, batata doce, batatinha, hortaliças variadas, mel, ovos, leite, queijo, manteiga, doces, polpas de fruta, sucos, bolos, beijus, tapiocas e artesanato, espalhados pelas 15 tendas montadas na rua José Caetano de Andrade, às margens da BR 104 que corta a cidade. Uma sequência de apresentações culturais também fez parte da programação com as apresentações do trio de forró pé de serra “Forró da Manga” de Remígio-PB, o grupo de percussão “Afrovida” de Lagoa Seca e o grupo de teatro do Núcleo de Extensão Rural em Agroecologia da Universidade Estadual da Paraíba (Nera) da UEPB, além da declamação de cordéis, poesia e show de voz e violão promovido pelos jovens da Comissão.

Uma novidade desta edição da feira foram as duas Tendas Pedagógicas, abertas à visitação da população. De um lado, a tenda que representa a ‘agricultura da morte’, com distribuição de materiais de alerta sobre os riscos dos agrotóxicos, vídeo explicativo sobre os transgênicos e exposição de alimentos contaminados. Do outro lado, uma tenda representou a ‘agricultura da vida’, com degustação de alimentos produzidos sem veneno, distribuição de materiais educativos, receitas de fertilizantes, defensivos naturais e doação de 200 mudas para os visitantes.

Jadson Vieira é professor de história do 8º e 9º ano do ensino fundamental da rede municipal e do ensino médio da rede estadual em Lagoa Seca, ele trouxe seis  turmas de alunos para visitarem a feira: “Acho que é pela valorização da cultura e dos saberes do campo, pois vivemos em um município onde mais de 60% dos alunos vem da zona rural, portanto isso aqui representa a cultura, a memória deles. Eu quis também promover uma vivência mais politizada sobre o alimento e a sua origem”, disse.

No final da manhã, com as barracas quase todas vazias, a feira foi encerrada com uma ciranda entre os participantes, reafirmando o seu lema: “Juventude e Agroecologia: a luta é todo!”. “Mais uma vez cumprimos a nossa missão e a feira superou nossas expectativas”, avaliou Márcia Araújo, liderança da Comissão de Jovens do município de Lagoa Seca.