Semiárido
01.06.2018
Experiências com sementes, comunicação, educação e acesso à água no Semiárido são apresentadas durante o IV ENA

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Por Elka Macedo e Verônica Pragana - ASACom

O Programa Sementes do Semiárido da ASA fortalece a estocagem de sementes crioulas pelas famílias agricultoras | Foto: Ana Lira

O Semiárido brasileiro é um território fértil quando se fala em experiências agroecológicas. Embora isso nem sempre esteja tão evidente, práticas como captação e armazenamento de água da chuva, valorização do saber popular, conservação e multiplicação das sementes crioulas, sistemas produtivos, entre outras práticas de convivência com o Semiárido, são na verdade um grande laboratório de experimentação da agroecologia.

Para o coordenador do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), Rafael Neves, a participação da ASA tem o sentido de contribuir para que as ações do Semiárido possam inspirar outras regiões e que também o Semiárido possa agregar novos conhecimentos que ajudem no fortalecimento das ações no campo. “Toda experiência da ASA com convivência com o Semiárido é muito à base do que se construiu no campo da agroecologia e aqui é o lugar de encontro de experiências, encontro dos êxitos, das dificuldades e dos desafios”, afirmou.

Durante o IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), algumas dessas experiências serão apresentadas nos seminários temáticos de Educação do Campo e Construção do Conhecimento Agroecológico; Água e Agroecologia: o papel da agroecologia nas defesas das águas como bem comum; Comunicação e Cultura: caminhos para a construção de conhecimentos agroecológicos, para fortalecimento da democracia e ampliação do diálogo entre campo e cidade; e Biodiversidade: bem comum, soberania alimentar e territorial dos povos do Brasil.

Neves vai apresentar a experiência do Programa Cisternas nas Escolas no Seminário de Educação do Campo e Construção do Conhecimento. Para o espaço, ele explica que a ideia é fazer trocas. “A gente vai apresentar um pouco do que temos acumulado e também ouvir dos companheiros de outros lugares e de outras regiões que têm muitas lutas que se assemelham a nossa. Como é que tá a luta? Quais as conquistas e os caminhos que estão sendo criados? Vamos discutir educação do campo a partir da experiência do Cisterna nas Escolas, que nos provocou a dialogar mais perto das professoras e dos professores e entender a luta das crianças e das famílias por uma escola no campo, uma escola na comunidade”, explica.

No espaço de debate sobre o tema Água, o coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), Antônio Barbosa, falará sobre o conjunto das experiências da ASA em gestão e acesso da água no Semiárido e construção de políticas públicas para garantia desse direito humano fundamental. No Seminário de Comunicação, a experiência a ser apresentada é do Grupo de Teatro Popular do Polo da Borborema, organização integrante da ASA Paraíba. A trupe constrói peças teatrais com cunho educativo para sensibilizar as populações do campo e da cidade acerca de temas como violência contra a mulher, agroecologia, convivência com o Semiárido, sementes crioulas, transgênicos, gerenciamento de água e agrotóxicos.

Sementes Crioulas – Um desafio grande quando se olha para os territórios agroecológicos de todos os biomas do Brasil é a perda de toda a biodiversidade, dentro delas as sementes crioulas extremamente importantes para a soberania e segurança alimentar da humanidade. Com a erosão deste material genético, perde-se também o conhecimento popular associado ao seu manejo pelas comunidades e povos tradicionais, guardiães das florestas, matas e águas.

Ao mesmo tempo, surgem com força no Brasil iniciativas articuladas de resistência ao rastro destruidor do agronegócio, dos empreendimentos econômicos internacionais e nacionais, como a mineração, e das grandes obras hídricas. No Seminário Biodiversidade: bem comum, soberania alimentar e territorial dos povos do Brasil essas duas forças antagônicas, que agem ao mesmo tempo nos territórios, serão observadas a partir da apresentação de 3 experiências de diferentes regiões.

Do Semiárido brasileiro, que abrange grande parte da região Nordeste, o Norte de Minas Gerais e o Vale de Jequitinhonha, também em Minas, será compartilhada a experiência do Programa Sementes do Semiárido, da ASA, que tem fortalecido a cultura de estocagem de sementes crioulas adaptadas à região pelas famílias agricultoras. Do território que abrange o Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, vem a experiência do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco de Babaçu. A luta das comunidades e povos tradicionais dos Pampas, no Rio Grande do Sul, será contada a luta para salvaguardar a biodiversidade local face à lógica especulativa sobre a terra e os territórios da região.

“Organizada pelo Grupo de Trabalho sobre Biodiversidade da ANA, o seminário vai discutir como que hoje os territórios e os conhecimentos tradicionais dos agricultores/as estão ameaçados pelo avanço das monoculturas, da mineração, pela estrangeirização das terras, pelos transgênicos, pelos agrotóxicos e pelo crescente interesse das empresas sobre os conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade. Por outro lado, o seminário também vai mostrar como que a construção da agroecologia vem criando diferentes formas de resistência na defesa das sementes, dos territórios, dos conhecimentos locais e da segurança alimentar”, explica Gabriel Fernandes, do GT de Biodiversidade da ANA.

Além destes seminários, outros 10 acontecem hoje à tarde no IV Encontro Nacional de Agroecologia, que segue até este domingo (3), em Belo Horizonte, Minas Gerais.