Rumo ao IV ENA
29.05.2018 SE
III Encontro Sergipano de Agroecologia reúne cerca de 80 pessoas em Propriá

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Por Priscila Viana - jornalista do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras

Roda de conversa sobre comunicação e cultura durante o Encontro Estadual de Agroecologia de Sergipe| Foto: arquivo Resea

A população brasileira consome cerca de cinco litros de veneno a cada ano, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Essa realidade alarmante deve-se ao uso desenfreado de agrotóxicos na produção de alimentos no Brasil – são 10 anos ocupando o topo do ranking mundial de consumo de agrotóxicos, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ainda segundo a Anvisa, enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial desse setor cresceu 93%, no Brasil, esse crescimento foi de 190%.

Diante desse cenário, com o objetivo de debater estratégias para a garantia da soberania alimentar e da produção e comercialização de alimentos orgânicos e saudáveis, a Rede Sergipana de Agroecologia (Resea) realizou, nos dias 23 e 24 de maio, o III Encontro Sergipano de Agroecologia, no município de Propriá (SE). O evento contou com a participação de 80 pessoas de diferentes territórios sergipanos, entre agricultores(as) familiares, camponeses(as), povos indígenas, comunidades quilombolas, pescadores(as), outros povos e comunidades tradicionais, além de artistas, professores(as) e pesquisadores(as) que atuam no âmbito da agroecologia.

Ao reunir representações de diversos povos e culturas, o evento foi fundamental para promover um intercâmbio de relatos e experiências em torno da agroecologia enquanto um modo de vida que defende a alimentação saudável, o cuidado ambiental, o protagonismo feminino, a valorização da cultura popular, a difusão de boas práticas agrícolas e a proteção dos povos indígenas, quilombolas e populações tradicionais. De acordo com um dos organizadores do evento, o Engenheiro Florestal Ram Sashi, é preciso reafirmar a agroecologia enquanto um modo de vida que tem o poder de realizar transformações sociais e reconstruir identidades.

“Agroecologia é a esperança plantada na ciência, movimento e prática. A ciência enquanto oportunidade de troca de conhecimentos e exercício de análise crítica sobre a realidade, a prática enquanto processo fundamental para a construção de uma nova realidade e o movimento como motor para a transformação social. A gente faz do congresso um palco para que essas três dimensões estejam presentes. Tudo isso partindo do alimento sobre uma perspectiva mais ampla, não só como um produto que deve matar a fome. Mas, principalmente, como uma riqueza que há milhares de anos se encarrega de manter vivos tantos povos em suas culturas”, explicou Ram Sashi.

Experiências agroecológicas

Durante o evento, os(as) participantes puderam trocar conhecimentos sobre as experiências desenvolvidas em seus respectivos territórios, a exemplo do cuscuz à base de milho crioulo, produzido pelo Movimento Camponês Popular (MCP). “Nós resgatamos as sementes crioulas como estratégia de construção de uma autonomia da classe camponesa perante ao desenvolvimento do capitalismo no campo e como forma de buscar um avanço para um projeto de soberania alimentar para o Brasil”, explica o agroecólogo e Coordenador Nacional do MCP, Philipe Caetano.

“O camponês faz parte da cadeia produtiva da agricultura, pois compra os insumos para a produção e depois comercializa sua produção. Mas geralmente ele fica refém dos atravessadores e das indústrias, pois praticamente tem que vender sua produção a preços muito abaixo do mercado. Quem lucra com isso é o grande negócio e as famílias camponesas continuam exploradas. O fortalecimento das sementes crioulas garante não só um alimento saudável, mas também a autonomia da família camponesa”, complementa Philipe ao destacar que, em dois anos, já foram produzidas 2 toneladas de farinha de milho crioulo.

Outra experiência destacada no Encontro Sergipano de Agroecologia fortalece o protagonismo feminino na Região do Baixo São Francisco: a produção de óleo de coco pelas mulheres da Associação Quilombola dos Pescadores do Povoado Resina, no município de Brejo Grande. “Produzir óleo de coco para nós, mulheres da Resina, não é só uma fonte de renda, mas também uma forma de enriquecer nossos conhecimentos e mostrar que a gente pode se alimentar cuidando da saúde”, afirma a presidente da Associação, Maria Aparecida.  

 

IV ENA

O III Encontro Sergipano de Agroecologia é um evento preparatório para o IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que será realizado entre os dias 31 de maio e 3 de junho de 2018, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, estado onde há uma rica história de participação e mobilização das organizações da sociedade civil na promoção das experiências agroecológicas, de consumidores e construção de espaços ativos de interlocução com o governo do estado sobre políticas para agricultura familiar, agroecologia e segurança alimentar e nutricional.

Sob o tema “Agroecologia e democracia unindo campo e cidade” e realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o evento deve reunir cerca de duas mil pessoas de todos os estados do Brasil, diretamente envolvidas na construção da agroecologia como estratégia de combate ao agronegócio.