Cisternas nas Escolas
14.11.2017 PI
“Não conhecemos o lugar em que vivemos”

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Refletir sobre a educação contextualizada é o mote das formações com os/as educadores/as do campo | Foto: Neto Santos

À princípio soa um pouco estranho ouvir de alguém que vive e convive no Semiárido, frases com esse tom, porém quando se observa atentamente o relato da professora Jozélia Soares que acabou de participar da oficina de educação contextualizada para a convivência com o Semiárido, atividade integrante do Programa Cisternas nas Escolas é possível entender melhor o sentido de seu raciocínio: “a gente vê um lugar possível de viver, mas também vê um grande desafio que é envolver e trabalhar com a família, os alunos e outros colegas professores esse modelo de educação que valoriza o saber local, isso porque os conteúdos que vêm nos livros não nos ajudam neste processo. Por isso, sinto que se faz necessário envolver a família e demais profissionais que trabalham na escola para que participem deste processo de formação assim como vem fazendo este Projeto Cisternas nas Escolas”. Este trecho é parte do relato da professora que atualmente ocupa o cargo de coordenadora pedagógica numa escola rural do município de Pedro II, região norte do Piauí.

Dos vários eventos que o Programa Cisternas nas Escolas contempla, entre eles as oficinas trabalhadas nos quatro municípios pertencentes ao território dos Cocais em que o Centro Mandacaru atua, três desses municípios tiveram seus educadores/as abraçando o debate sobre a educação que temos e a educação que queremos. Em praticamente todos os eventos com diferentes atores e atrizes desse processo, além da reflexão sobre a educação para a convivência foram criadas propostas e até projetos visando colocar em prática a metodologia da educação do campo, a exemplo da criação de hortas escolares e produção de materiais didáticos.

A mais recente proposta nesses encontros foi debatida e encaminhada na oficina realizada nos dias 09 e 10 de novembro em Pedro II. Após o debate de como dar continuidade a este processo de fortalecimento da educação contextualizada na região ficou firmado entre os/as participantes, a criação de uma comissão de cinco educadores/as com o apoio e assessoria pedagógica do Mandacaru para juntos elaborarem um documento propositivo para ser apresentado na semana pedagógica destes municípios.

“Ações deste tipo nos alimentam na luta por uma educação inclusiva e de transformação”, afirmou o professor Francisco Uchoa, assessor pedagógico no Programa Cisternas nas Escolas. As atividades trabalhadas no programa como oficinas, encontros territoriais entre outros tem despertado no público um anseio de luta por uma educação inclusiva, um sentimento que precisa ser alimentado para não acabar logo após o término das metas. “Esta é uma chama que acende aqui e que precisamos buscar o combustível certo para mantê-la acesa transformando nosso Semiárido, mesmo diante de vários desafios que vamos encontrar pela frente”, disse o professor Marivaldo Lopes.

A proposta de educação contextualizada debatida nestes espaços mostra uma forte raiz regional e até mesmo cultural, pois é difícil alguém que está na escola do campo, ouvir histórias locais e ficar indiferente diante do tema. “Há um sentimento de pertença, é como se a causa tivesse cheiro, logo que a pessoa sente imediatamente se identifica com a proposta metodológica”, acrescentava Francisco Uchoa.