Sementes crioulas
02.10.2017 BA
Sementes do Semiárido é tema de encontro e feira em Juazeiro

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Por Comunicação Irpaa

Cem pessoas de comunidades rurais do Semiárido baiano participaram do evento | Foto: Comunicação Irpaa

Aproximadamente 100 pessoas participaram do II Encontro Estadual de Sementes, que aconteceu na quinta e sexta-feiras da semana passada (28 e 29) no Centro de Formação Dom José Rodrigues, em Juazeiro (BA). O evento reuniu participantes de 12 microrregiões da Bahia e é realizado pela Articulação do Semiárido (ASA), através do Serviço de Assessoria a Organizações Populares (Sasop), que executa o programa Sementes do Semiárido no Sertão do São Francisco e mais três municípios da região desde 2015. O Sementes do Semiárido é um dos quatro programas da ASA que ampliam a capacidade das famílias agricultoras de estocar os recursos necessários para conviverem com o Semiárido como água e sementes crioulas.

Após a apresentação dos/das participantes, uma mesa redonda composta por representantes da ASA, Embrapa Semiárido, Univasf, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia (SDR), além de uma representante dos/das agricultores/as, discutiu os principais desafios da produção e conservação das sementes crioulas na região. Em outros estados do Semiárido, as sementes crioulas são chamadas de Sementes da Paixão, da Fartura, além de outras denominações.

Para uma das participantes da mesa, a pesquisadora da Embrapa Semiárido, Aldete Fonseca, um dos desafios é a comercialização dessas sementes, uma vez que o mercado no Brasil é dominado por duas multinacionais. Ela ressalta ainda a necessidade de investir em pesquisas relacionadas ao assunto, pois hoje se trabalha a partir da sabedoria popular, mas há a necessidade de sistematizar todo esse conhecimento empírico para assim garantir mecanismos que assegurem a produção e comercialização dessas espécies. Para Aldete, se faz hoje muita pesquisa voltada para o agronegócio, mas “a gente também precisa [de pesquisa] para agricultura familiar”, defende.

O representante da Bahiater, um programa do Governo da Bahia, Dário Nunes, mencionou a atenção que o governo tem dado a essa temática, potencializando ações e projetos voltados para agricultura familiar e, em especial, a conservação de sementes. Na oportunidade, Dário divulgou o edital de apoio a ações de sementes crioulas, lançado pela SDR. “A gente sabe que a semente armazenada pelas famílias é importante. A gente precisa um pouco ampliar essa conservação, sobretudo essa disponibilidade de semente”, destaca Dário, apontando para uma perspectiva do fortalecimento dos Bancos de Sementes no Território Sertão do São Francisco, na Bahia.

Ao longo dos debates, agricultores e agricultoras fazem questionamentos e trazem contribuições acerca de suas vivências práticas que garantem a manutenção da tradição de cultivo de sementes naturais, sem uso de agrotóxicos ou técnicas de melhoramento genético. A agricultora Valdeci Nunes, do município de Serra Dourada, no Oeste da Bahia, cita que muitos cultivos em sua região dispensam alguns cuidados específicos, a exemplo do uso de adubos. Mas há também muitas vezes a necessidade de algumas iniciativas básicas: “O agricultor tem que ser experimentador também”, diz Adriano Lima, da comunidade de Marrua, município de Macururé, ao relatar que sentiu a necessidade de fazer uma melhor preparação do adubo orgânico quando viu que sua horta não estava progredindo conforme deveria.

Houve ainda provocações sobre a importância de também priorizar o debate sobre a conservação das sementes animais, uma vez que é um das principais atividades produtivas da agricultura familiar do Semiárido e, mesmo quando se trata da agrobiodiversidade, é uma discussão que ainda fica a desejar. Além disso, foi exposta a preocupação também de discutir de forma mais aprofundada como garantir a conservação de sementes diferenciadas como a mandioca, a batata doce e sementes da Caatinga, a exemplo do umbu, licuri, etc.

Durante o evento, haverá ainda carrossel de experiências de agricultores e agricultoras, socialização de relatos na plenária, discussão acerca das prioridades e encaminhamentos para fortalecer a Rede de Sementes da Bahia. Na tarde da quinta-feira (28), houve uma Feira de Sementes na Praça Cordeiro de Miranda, no Centro de Juazeiro. A Feira aconteceu em paralelo ao lançamento da Feira de Produtos Orgânicos que passa a ocorrer todas as quintas no referido local, promovida pela prefeitura municipal.

O II Encontro Estadual de Sementes conta com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário e Brasil Agroecológico/Planapo, além da parceria da Univasf e Embrapa Semiárido.