VELHO CHICO
22.08.2017 AL
O rio que seca

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Por Elessandra Araújo – Comunicadora Cdecma

Diversos trechos do Rio São Francisco no estado de Alagoas têm sofrido os impactos da poluição, assoreamento e despejo de esgoto | Foto: arquivo Cdecma

O rio São Francisco agoniza na região do Baixo São Francisco. Na cidade de Penedo, em Alagoas, os bancos de areia aumentam no leito do rio. No trecho da Rocheira até a prainha, observa-se o avanço da vegetação nas áreas assoreadas, a diminuição do nível da água e da profundidade do rio. Outros impactos negativos à vida do Velho Chico na região são a deposição de esgotos, devido à fragilidade no saneamento básico da cidade, e a ausência da mata ciliar.

No município alagoano de Piaçabuçu a salinidade na água aumenta gradativamente, e esse fato já era previsto há décadas, porém ignorado, assim como já era visível há décadas o avanço dos bancos de areia em Penedo e na Foz. Desde sua nascente na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até chegar a Foz, onde se encontra com as águas do mar, o rio enfrenta diversos impactos negativos nos cinco Estados por onde passa.

São 2.863 km, quando medido ao longo do trecho geográfico. Nessa trajetória que o Velho Chico faz ele proporciona benefícios para vida das populações e em troca sofre muitos malefícios. Um rio que gera vida e como resposta recebe a morte. Até quando o São Francisco vai conseguir resistir para abastecer as cidades e sustentar a irrigação, navegação, a pesca, manter o turismo, as barragens das usinas hidrelétricas, a transposição, entre outras obras como o canal do sertão em Alagoas? Até quando?

Apesar do rio está agonizando, a revitalização não chega para fortalecer o Velho Chico. Na contramão disso, a transposição aconteceu e já soma um investimento de R$ 10 bilhões de reais. A obra é impactante para flora, fauna e a população da Bacia Hidrográfica do São Francisco e saiu do papel, porque houve vontade política, que ignorou em 2005 os estudos sobre os impactos ambientais que causariam ao rio, a exemplo, o estudo da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e de outros cientistas e pesquisadores.

No encontro, foram definidos alguns princípios básicos para que a obra fosse levada a diante, a exemplo dos que definiam que “os recursos hídricos da região de origem devem ser suficientes para satisfazer a demanda da transferência sem acarretar impedimento ao desenvolvimento futuro dessa região”, bem como a orientação que afirma que “os impactos ambientais ocasionados pela transferência de água devem ser mínimos para ambas as regiões, de destino e de origem”.

No entanto, enquanto os recursos para a continuidade das obras de transposição são multiplicados ano a ano, as ações para revitalização do rio seguem engavetadas e as águas do Velho Chico vêm diminuindo. Há trechos do rio em municípios do Baixo São Francisco que já secaram.

Rio em Pão de Açúcar

Ao longo dos anos o nível da água foi baixando na cidade de Pão de Açúcar em Alagoas. As margens foram aterradas e os bancos de areia aumentaram. O ex-pescador, Jânio Vieira Barreto, 60, lamentou: “Na minha infância o rio era cheio, hoje onde é a margem e ficam as embarcações, antes era o meio do rio. E o que contribuiu para diminuição da água foram as seis barragens das hidrelétricas no leito do rio, que prendem a água para gerar energia. Então o rio foi secando, diminuiu a pesca, porque muitos peixes desapareceram. Já não plantamos mais arroz e o que fazemos é trabalhar com as embarcações, e isso  é algo que pode parar, porque  os bancos de areia crescem. Com o enfraquecimento do rio aumenta o sofrimento dos ribeirinhos, principalmente os que dependem do São Francisco para sobreviver”, diz.

Estamos caminhando para ver o rio se tornar um fiasco, se a sociedade não trabalhar para recuperação do Velho Chico. Não adianta dizer que o problema está na chuva que diminui, devido às mudanças climáticas, mas adianta afirmar que as mudanças climáticas são decorrentes também das ações antrópicas.

Adianta informar que não investir em outras fontes de energia que sejam ambientalmente, socialmente e economicamente sustentáveis torna o rio cada vez mais frágil, principalmente com a diminuição da vazão para garantir água nas barragens das hidrelétricas.

Adianta dizer que os tributários do rio São Francisco precisam de revitalização, que o rio está secando e aos poucos vai morrendo um grande ecossistema. Será que vamos permitir que o rio São Francisco seja destruído como o Mar de Aral, localizado na Ásia Central?

Quando a vontade política vai representar o grito da sociedade e o estudo de pesquisadores que tenham respeito à vida? Quando a revitalização da Bacia Hidrográfica do São Francisco vai acontecer de verdade?