Por Elessandra Araújo – comunicadora do CDECMA
A explosão do verde na caatinga, que transforma a paisagem no Semiárido alagoano, a garantia de ter água estocada nas cisternas, barragens e alimentação para os animais, além do cultivo de alimento para família, tudo isso, representa uma grande riqueza para o casal de agricultores, Mário Cipriano da Silva e Espedita Alves da Rocha. O casal tem dois filhos, e vive na comunidade Mulungu, no município de Minador do Negrão em Alagoas.
“Agora o sertão está uma riqueza. Não tem coisa melhor! As cisternas e barragens estão sangrando. Se o tempo fosse sempre assim o povo do Nordeste não teria sofrimento. E se não fosse às cisternas, a vida não seria a de hoje, porque a água vinha e a gente não tinha onde armazenar. No sertão, apesar da chuva demorar pra chegar, quando chove, se as famílias tiverem onde guardar a água, elas têm tudo na vida”, contou seu Cipriano.
Mário Cipriano está sempre buscando caminhos para manter a água na casa. E se preparou para esse momento de chuva construindo outros reservatórios, como por exemplo, pequenos tanques, e um específico para captar a água que corre no terreiro da casa. “Se a gente tivesse mais reservatórios o verão seria de fartura, porque está chovendo muito. Faz 40 anos que não vejo chover assim em Mulungu”, disse o agricultor.
Com os reservatórios cheios, o agricultor faz planos para manter a produção no período de estiagem. Uma das formas que ele pretende produzir é com o reuso da água da lavagem de pratos e roupas. “Os últimos sete anos foram os piores, porque não choveu na região para desenvolver a lavoura e juntar água. Mas, consegui plantar e manter no verão com o reuso da água, a bananeira, laranjeira, pinheira, feijão, tomate, coentro, batata doce. Quando o verão chegar minha família voltará a fazer o reuso da água, e já estou guardando toda água que posso”, explicou Mário Cipriano.
A produção
A família de Cipriano e Espedita conquistou as cisternas de primeira água para consumo humano e a segunda água para produção de alimentos, respectivamente, por meio dos Programas Um Milhão de Cisternas e Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).
Fazendo a gestão da água nas cisternas e o reúso para o plantio de hortaliças e frutíferas, a família conseguiu enfrentar o período de estiagem prolongada. Agora, com a chegada da chuva e a garantia dos reservatórios cheios, o agricultor aumentou a produção, e acrescentou ao redor de casa o cultivo da cebolinha, do alface e do alho-poró. Já na roça ele plantou 60 quilos de feijão e 90 quilos de milho de sementes crioulas. A família mantém também no quintal de casa a criação de pequenos animais.
A chuva que caiu na região dá à família a segurança hídrica para manter a produção alimentar, embora o agricultor tenha destacado: “Chegou à água para produzir, mas a gente não conta com nenhum apoio de governos para desenvolver a produção. O agricultor vive com a graça de Deus e com o esforço que faz, mas pela ajuda dos governos não”, salienta.
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