ASA
18.05.2017
Experiência da ASA é referência em evento do governo boliviano

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Solução criada pelas famílias agricultoras do Semiárido brasileiro que virou política pública é apresentada no evento | Foto: Bruno Spada / Arquivo: Asacom

Um mês depois da apresentação da experiência da ASA no seminário da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em Roma, essa prática será contada novamente em um evento internacional, desta vez na Bolívia. Interessado em ampliar o acesso à água para 80% das famílias rurais até 2020, o governo boliviano vai realizar a “Oficina de intercâmbio de saberes e boas práticas em água e saneamento” hoje e amanhã (18 e 19), em La Paz.

Na Bolívia, só 59% das famílias que vivem nas localidades com menos de 500 habitantes desfrutam do acesso à água. Por isso, a ação governamental junto a essa população difusa foi eleita como prioridade. Daí o interesse em conhecer mais a ação da ASA que tem conseguido êxito na oferta de água em regiões de diferentes densidades populacionais dentro do Semiárido.

A estratégia desenvolvida pela ASA é aproveitar a mais importante fonte de água da região: a chuva. E o armazenamento da água pluvial, antes desperdiçada, é feita em tecnologias desenvolvidas pelas próprias famílias agricultoras, como a conhecida cisterna.

Se inspirar nas estratégias das famílias agricultoras para se manter na região é um dos pilares da intervenção da ASA, que age assim: observa as soluções populares, sistematiza esse conhecimento e prática e busca parcerias junto aos governos e empresas para ampliar a quantidade de famílias e comunidades beneficiadas.

Gestão das reservas de água – Com as tecnologias que guardam água da chuva para consumo humano e animal e produção de alimentos e forragens, as famílias podem utilizar águas de fontes não potáveis que têm acesso para serviços domésticos, lavar roupa e outras necessidades. A família passa a fazer uma gestão responsável da água disponível. Essa mudança afeta diretamente as relações entre políticos locais e a população que passa a exigir o seu acesso à água como direito e não mais favor, cujo pagamento é cobrado em forma de voto dos candidatos que se beneficiam com a ‘indústria da seca’.

Além de estruturar as propriedades e comunidades com infraestruturas que permitem o armazenamento de água, a metodologia da ação da ASA prioriza também a construção de conhecimentos através de capacitações e intercâmbios dos/as agricultores/as.

A ação da sociedade civil, representada pela ASA, influenciou políticas públicas do Governo Federal que criou o programa Cisternas para promover o abastecimento de famílias rurais. Um dos grandes diferenciais desta parceria é o alcance de famílias rurais muito isoladas que nunca tiveram acesso a políticas públicas.

Resultados da ação da ASA - Levando em consideração a atuação da rede ASA Brasil – sem contabilizar as ações das ASAs estaduais – mais de 2,4 milhões de pessoas que vivem no espaço rural e têm como ofício a agricultura passaram a ter água potável ao lado de casa guardadas em cisternas. E 98,4 mil propriedades possuem tecnologias que acumulam água da chuva para produção de alimentos e criação animal.

Além das ações de ampliação do estoque de água para famílias, outro programa da ASA atua no sentido de prover com água as escolas rurais. Atualmente, mais de 3800 instituições de ensino têm uma cisterna de 52 mil litros de água para uso dos alunos e profissionais. O número de estabelecimentos atendidos pelo Cisternas nas Escolas corresponderia a 76% das escolas sem abastecimento segundo dados do Governo brasileiro, levantados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No entanto, com a ação do programa, as instituições da ASA identificaram outras escolas não incluídas na relação do governo com carência de água.

O quarto programa da ASA fortalece - através da reforma ou construção de bancos de sementes para uso comunitário - a cultura das famílias agricultoras de guardar sementes crioulas para o próximo plantio. Assim, além das sementes estocadas em casa, as famílias dispõem de uma reserva extra no banco comunitário. Até o momento, a ASA possibilitou que 640 comunidades rurais tenham um lugar, que representa um segundo nível de segurança para esse material genético, para guardar as sementes crioulas que fazem parte da sua cultura alimentar e produtiva há várias gerações.

Mas a demanda por água ainda é grande no Semiárido do Brasil: estima-se que mais de um milhão de famílias precisem de tecnologias que estocam água da chuva para seus plantios e para matar a sede dos animais que criam. E cerca de 350 mil famílias ainda estão sem as cisternas que guardam água para beber, cozinhar e escovar os dentes.