8 de Março
07.03.2017 PE
Denúncia, reivindicação e arte marcam a paralisação geral de mulheres no dia 8 de março

Voltar


Por Emanuela Castro - Comunicação da Casa da Mulher do Nordeste

As mulheres do mundo inteiro estão se mobilizando para transformar o 8 de março deste ano num ato político contra o avanço do neoliberalismo contra seus direitos. | Imagem: Divulgação

FEMINISMO - O dia 8 de março de 2017 entrará para a história! Mulheres do mundo inteiro vão parar por direitos e democracia, denunciando as várias formas de opressão construídas pelo patriarcado, machismo, racismo e capitalismo. Marchas e bloqueios de estradas, abstenção do trabalho doméstico e sexual, greves em instituições educacionais, denúncia de políticos e boicote de empresas misóginas são apenas algumas das formas de paralisação. No Recife, a mobilização está sendo coordenada por movimentos feministas, entidades de mulheres ativistas por direitos humanos, pelos direitos das mulheres. O ato político será no Parque Treze de Maio, a partir das 14h10, com atividades culturais e marcha até à Praça do Derby.

As organizadoras afirmam que é urgente a construção de uma grande aliança política, amorosa inclusive, entre as mulheres, feministas ou não, contra todas as formas de opressão e destruição. De acordo com a militante feminista Sílvia Dantas, assistente social e membro do Fórum de Mulheres de Pernambuco (entidade que também integra o Comitê), existe uma forma de viver que precisa ser transformada, porque é uma forma individualista, que não olha a outra pessoa como companheira, mas sim como opositora. "Existe uma cultura do ego enorme. Isso é muito ruim. Essa cultura é depreciativa, discriminadora e prejudica as mulheres, que acabam ficando na retaguarda. Quanto mais a sociedade é racista, mais a mulher assume o cuidado de quem sofre essa violência, seja física ou psicológica. A saída que as mulheres estão encontrando é nos antidepressivos. E o golpe no Brasil acirra ainda mais essa situação. Mas a situação é global. Ou ainda os EUA que acabaram de eleger o Donaldo Trump, que, desde a campanha, anunciava uma política de restrição à garantia de direitos. Mas países com melhores práticas democráticas, com políticas públicas de qualidade para toda a população, também vivem situações de violência, como foi o caso de estupro coletivo na Suécia", explica a feminista.

É com o lema "Solidariedade é a nossa arma" que a chamada da paralisação percorre o mundo em vários idiomas. O texto foi escrito pelas polonesas, no final de outubro de 2016. No Brasil, a ideia tomou força em janeiro. De acordo com a militante feminista Dolores Fastoso Amaya, membro do Fórum de Mulheres de Pernambuco, a construção do 8 de março é uma boa oportunidade de consolidar mais as articulações e parcerias entre os diversos movimentos de mulheres da região metropolitana, mas também alinhar ações por todo o estado de Pernambuco, se manifestando de forma expressiva nas ruas contra os retrocessos na construção da democracia no Brasil e na defesa dos direitos das mulheres. "As políticas públicas estão sendo desmontadas e existe um aumento expressivo na violência, nos casos de estupro. Esse ato coletivo da Região Metropolitana no Recife expressa o compromisso, a vontade política de todas as militantes de estabelecer pontos em comum fundamentais para lutar contra um governo que se formou de maneira ilegítima, e não é reconhecido pelo movimento feminista", ressalta a feminista Dolores.

Marcha reuniu, no Recife, cerca de 7 mil pessoas em 2016 | Foto: Maira Gamara
Marcha reuniu, no Recife, cerca de 7 mil pessoas em 2016 | Foto: Maira Gamara

Em 2016, o movimento de mulheres reuniu cerca de 7 mil mulheres em marcha na Av. Conde da Boa Vista. Este ano a expectativa é que o dia seja muito mais expressivo do que nos anos anteriores. Para isso a preparação tem sido intensa, através de plenárias semanais, abertas, amplamente divulgadas. Nesse espaço elas dialogam sobre a conjuntura, tomam de decisões coletivas e dividem as tarefas prepararias em 5 comissões temáticas. E assim chegaram ao formato do ato no Recife, que será marcado por denúncia, reivindicação e arte. A programação começa às 14h10, no Parque Treze de Maio. No espaço, serão organizadas rodas de conversa, oficina de cartazes e faixas e muita denúncia. Às 16h10, as mulheres sairão em marcha pela Rua do Hospício e Avenida Conde da Boa Vista até à Praça do Derby, batizada pelos movimentos sociais de "Praça da Democracia", em 2016. O tom de reivindicação ganhará as ruas com muita música e vozes de mulheres que lutam, como Doralyce Gonzaga, Karina Spinelli, Ylana Queiroga e Mayra Clara. Ao longo percurso, haverá cinco intervenções culturais com o foco nos temas: pelo fim da violência, pelo fim do racismo, contra a reforma da previdência, por uma política de drogas não discriminatória, pela legalização do aborto e por uma reforma política ampla e radicalmente democrática. Haverá atividades em todo o Estado, com ações descentralizadas nos municípios do Agreste, da Zona da Mata e do Sertão para engajar o máximo de mulheres na luta.

Para as ativistas, o feminismo é um movimento que, pela sua crítica à sociedade, é muito discriminado. Criam diversos rótulos depreciativos, e há interesses por trás dessa depreciação. Isso faz com que muitas mulheres que estão em movimento não percebam o feminismo como um campo da sua atuação. Muitos direitos de hoje foram da luta feminista, seja o direito ao voto, ao trabalho, ao salário igual.

Ações pelo agreste, sertão e zona da mata de Pernambuco - O Sertão conta com uma vasta agenda de atividades no Dia Internacional da Mulher. Em Afogados da Ingazeira, Santa Cruz da Baixa Verde e Tabira haverá atos públicos contra a PEC 287. A militante feminista e professora do Ensino Fundamental no Sertão do Pajeú, Uilma Queiroz ressalta que a região enfrenta uma longa estiagem e que os períodos de seca são cada vez mais regulares e constantes, o que dificulta ainda mais a sobrevivência das mulheres no campo. “De que maneira as mulheres rurais e quilombolas, na região semiárida, como a do sertão do Pajeú, poderão contribuir com a previdência? Em nossa região, a produção agrícola é irregular devido aos períodos de estiagem. Desde 2010 enfrentamos a maior seca dos últimos 50 anos. Esse cenário que inviabiliza qualquer contribuição com a previdência, pois a produção mal garante o sustento da família”, questiona a militante.

A violência é outro aspecto alarmante no interior do Estado. A advogada Fátima Silva, denuncia a ausência de mecanismos e políticas públicas voltadas à proteção e ao acolhimento das mulheres agrestinas. “As redes de proteção têm sido desmontadas e, em diversos municípios, não existe Delegacia Especializada da Mulher. Um processo de interiorização destes mecanismos é necessário e urgente”, reivindica a advogada.

Municípios do Agreste também serão marcados por atos políticos no 8 de março. Em Caruaru, mulheres de toda a região se unirão contra a Reforma da Previdência. No Araripe, as mulheres estão organizadas para bloquear a principal rodovia federal pela manhã. Outro ato tomará as ruas de Orobó, cuja concentração será na frente da sede do Sindicato Rural, às 7h, com produção de faixas e cartazes. Às 8h, as mulheres seguem em marcha pelas ruas em direção à quadra Paulo Freire. Em Passira, além de atividades preparatórias pela manhã, nas escolas públicas Bengalas e Erem, as feministas se dividem, saindo em caravana para participar dos atos no Recife e em Caruaru. Em Belo Jardim, as mulheres estão promovendo rodas de diálogos com outras mulheres das comunidades quilombolas e das periferias.

As feministas consideram importante conversar com estudantes e com as mulheres populares sobre como a PEC 287 coloca todas as trabalhadoras e os trabalhadores no mesmo contexto, sem observar as necessidades básicas de cada região e realidades nas quais as mulheres estão inseridas. Segunda a advogada e militante do Fórum de Mulheres do Agreste, Elisa Aníbal, a reforma da previdência vai estimular o êxodo rural, impactando assim de forma negativa a produção alimentar e na economia local, precarizando ainda mais os recursos das trabalhadoras rurais. Ela recorda o que Simone de Beauvoir afirmava: "Basta uma crise política, econômica e religiosa para que o direito das mulheres sejam questionados."

O movimento feminista da Mata Sul também considera importante fazer ações descentralizadas em municípios menores para promover o diálogo entre as mulheres. Além de rodas de conversa, panfletagem e seminários, a Mata Sul conta com um grupo de teatro feminista que, desde o começo de 2015, realiza esquetes e apresentações teatrais sensibilizando mulheres e homens sobre a violência contra a mulher e o racismo. O grupo participará do ato no Recife e já tem programada uma semana de intervenções teatrais de rua em Escada, Joaquim Nabuco, Palmares e Água Preta.