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07.08.2016
Do quintal para a mesa
Folha Pernambuco - Priscilla Costa


Plantas não convencionais, como as folhas de cenouras, são cheias de nutrientes

Seu almoço ou jantar pode estar no quintal, num terreno baldio e até próximo a calçadas e você nem se dá conta. As Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANCs) crescem espontaneamente, em qualquer ambiente. Mas, o desconhecimento sobre elas nos priva o paladar, levando-nos muitas vezes a descartá-las por acharmos que se tratam de ervas daninhas. Mas, acredite: muitas delas têm mais nutrientes do que as que estamos acostumados a comer. A urtiga, por exemplo, associada como seu principal efeito - a urticância - é uma PANC e poderia estar junto às outras folhas da sua salada. E o sabor é bom, na linha da taioba ou do espinafre, mas sem o amargor, garantem os especialistas.

O doutor no assunto pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Valdely Ferreira, afirma que esses tipos de planta já foram convencionais um dia. Segundo ele, várias dessas plantas costumavam ser consumidas por nossos avós ou bisavós. “Sua eliminação do cardápio foi se dando devido à pouca diversidade da agricultura convencional. Poderíamos estar com um leque muito maior no cardápio, comendo folha de cenoura, por exemplo”, observa. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que o número de plantas consumidas pelo homem caiu de 10mil para 170nos últimos cem anos. O agricultor familiar Amadeu Petroni, 52 anos, e sua esposa Cristina Petroni, 48, são umas das poucas pessoas que dão valor a esse tipo de planta. Eles cultivam a taioba e a urtiga branca em meio aos seis hectares de um sítio, em Igarassu, no Grande Recife.

É a com elas que eles preparam quixes e pastéis para vender. Até os mangarás (corações ou umbigo) e os frutos da banana são aproveitados para fazer bolo. “Eu nem precisei plantá-las. A taioba e a urtiga cresceram espontaneamente no sítio. O que apenas faço é aguá-las, colhê-las e aproveitá-las nos alimentos para vender na feira. E os clientes aprovam”, garante Amadeu. As questões culturais também influenciaram. A avaliação é do professor do Departamento de Botânica da UFPE, Ulysses de Albuquerque. “Ocorreu um imperialismo ecológico pelos colonizadores europeus e asiáticos no Brasil. Eles impuseram suas plantas alimentícias na nossa cultura. O alface é uma delas.”

Feirinhas orgânicas
Em Pernambuco, você pode encontrar essas plantas em feiras orgânicas, já que os supermercados ou quitandas são redes que vendem vegetais de produtores em várias partes do País. “É uma ótima opção tanto pelo preço quanto pelo valor nutritivo. As folhas de tubérculos, cenoura ou batatas, por exemplo, são PANCs porque são partes de plantas que não possuem uma cadeia produtiva bem estabelecida”, afirma a nutricionista clínica e doutora em Biotecnologia pela UFRPE, Lorisa Simas Teixeira. O cozinheiro Hilky Diniz, 31, é um desses consumidores integrais. A folha da cenoura ou da cebola, por exemplo, são aproveitadas para dar textura e sabor aos pratos feitos por ele. “Uso (as plantas) refogadas no arroz, sopa, num guisado, risoto e até misturadas a outros legumes. Por serem livres de agrotóxicos, o sabor fica mais intenso”, opina.


Nutrientes dependem da forma de cultivo
De acordo com Lorisa Simas, o teor de nutrientes, principalmente, minerais em vegetais depende do cultivo e do solo. “Entre as PANCs folhosas temos a taioba, ora pró-nobis e folhas de cenoura. Essas folhas são mais baratas e com várias opções de consumo. Se compararmos a taioba e a rúcula, por exemplo, a taioba custa menos e possui uma relação cálcio magnésio melhor, favorecendo a saúde óssea”, compara. Entretanto, Lorisa fez uma ressalva: as pessoas não devem preferir um alimento apenas pelo seu teor de nutrientes. Não é isso que faz dele melhor. Segundo ela, é preciso saber sobre o cultivo, os agricultores que você está sustentando quando compra aquele alimento, a cultura em torno do hábito de cozinhar ou como ele é servido. “Esses aspectos são tão importantes quanto a presença de nutrientes para a saúde. Comer mais PANCs aumenta o consumo de nutrientes e fotoquímicos diferentes, permite que você se aproxime de agricultores familiares, exercite habilidades culinárias e teste novas maneiras de cozinhar. Sem dúvidas, você irá descobrir e fazer muita coisa boa se for comprar e comer essas plantas”, considera.

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