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11.03.2010
Cisternas deixam o semiárido mais verde
Revista - Globo Rural


Por Texto: José Paulo Borges / Fotos: Denny Ferreira

Dá gosto ver o brilho nos olhos da agricultora Bernadete Campos Vasconcelos, 49 anos, quando ela recebe algum visitante em sua casa, na pequena propriedade rural da comunidade de Tatauí 4, em Sobradinho, norte da Bahia. Afinal de contas, não é todo mundo que pode dar-se ao luxo de servir um café da manhã à sombra de um umbuzeiro centenário.

Mas a árvore não é o único motivo de orgulho da agricultora e de sua família. Ao passear pela propriedade - onde vive com a mãe, o filho Alex, mais a nora e três netas - dona Bernadete vai mostrando como tudo ali é verdinho. Nem parece que se está em pleno semiárido nordestino, região marcada pela forte insolação e por chuvas escassas.

O terreno, de 100 hectares, é ocupado por uma variedade de culturas: macaxeiras, coentro, feijão, milho, sorgo, couve, batata-doce, cebolinha, tudo florescendo em seu devido tempo. Já a criação de cabras e ovelhas é confinada numa área de 55 hectares.

E dizer que, até pouco tempo atrás, o local era uma tristeza. Na época, no período de chuvas - o "inverno" local -, aguardado para começar lá pelo mês de dezembro, mas que muitas vezes demora para chegar, desta terra só brotavam mirrados pés de milho e feijão. A criação era, como diz o sertanejo, do tipo "sanfona". As cabras e ovelhas ganhavam um pouquinho de peso no inverno, para definhar completamente nos meses de seca brava. Muitos animais morriam pelo caminho. "A água só chegava uma vez por mês, em caminhões-pipa. Não dava para quase nada."

Programa Uma Terra e Duas Águas

O que está acontecendo hoje em dia na roça de dona Bernadete não é um caso isolado. Trata-se de um resultado, bem-sucedido, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) desenvolvido pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), rede formada por centenas de entidades da sociedade civil que, em linhas gerais, propõe a convivência racional com o semiárido por meio da promoção e implementação de políticas públicas adequadas à região.

Na verdade, o P1+2 é uma extensão do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), projeto também gerido pela ASA a partir de julho de 2003, com o objetivo de beneficiar cerca de cinco milhões de nordestinos, oferecendo água de qualidade para consumo humano, captada das chuvas por meio de calhas instaladas nos telhados das casas, e armazenada em cisternas com capacidade de 16 mil litros.

O "P1" do Uma Terra e Duas Águas - implementado em 2007, com a instalação de unidades-piloto em pequenas propriedades rurais de vários estados nordestinos - significa garantia de acesso a terra aos agricultores. O "+2" representa os dois tipos de água que o sertanejo necessita para sobreviver: uma para consumo humano e outra para produção de alimentos.

"Para se beneficiar do P1+2, o agricultor precisa ter em sua propriedade a cisterna doméstica", explica José Carlos dos Santos Néri, um dos instrutores do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), ONG sediada em Juazeiro, BA, responsável pela coordenação do programa na região.

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